O CARISMA DE MURIALDO
À SERVIÇO AOS JOVENS POBRES
(A partir de São Leonardo aos nossos dias)
(Giovenale Dotta)
Introdução
Quem conhece Murialdo sabe que ele foi capaz de ler a história, também a de seu tempo, como o lugar da presença de Deus que age no hoje e pede que nós também reconheçamos o rosto de Cristo no irmão, com uma resposta de serviço e de doação que saiba propor intervenções oportunas às necessidades dos tempos. A descoberta do amor de Deus e o desejo de corresponder-lhe se concretizavam nele na busca e no cumprimento da vontade de Deus, como aparece, aliás, num texto muito apreciado por ele(A Vida de Fé). Espiritualidade e apostolado encontravam assim a sua unidade : a leitura dos sinais dos tempos, o olhar para a situação, a pobreza material e moral de tantos jovens foram para ele a voz e o apelo, o guia que ele docilmente seguiu na obra de sua santificação e no trabalho para santificar os jovens a ele confiados.
Esta atitude básica tipicamente sua (deixar-se conduzir pela vontade de Deus) norteou, portanto, os passos de sua vida apostólica desde o início, entre os meninos dos primeiros oratórios de Turim, e depois entre aqueles mais pobres do Colégio dos Artigianelli.
A Congregação de São José que ele fundou, e as outras realidades da Família de Murialdo nascidas a seguir, procuram continuar seu caminho e prosseguir no seu empenho.
Percorramos, portanto, nós também o fio da história, para conhecer melhor o carisma de Murialdo para com os jovens pobres, desde os primórdios até nossos dias.
1. Oratórios, patronatos, centros de juventude :
um «lugar educativo» que não envelhece
São Leonardo Murialdo dedicou a maior parte do seu tempo e das suas energias aos meninos pobres e abandonados, no âmbito de algumas instituições (Colégio dos Artigianelli, colônia agrícola de Rívoli...) que acolhiam e hospedavam os meninos dando-lhes comida, roupa, preparação para o trabalho, a formação humana e cristã e muitas vezes o afeto do qual tinham sido privados. Mas quando se tratou de começar atividades completamente novas, que deviam ser confiadas à Congregação, ele preferiu o oratório. Excluídas as obras aceitas só temporariamente, por experiência, as obras abertas por Murialdo entre 1873 (fundação da Congregação) e 1900 (ano da morte do santo), são treze. Mais da metade, e precisamente oito, são oratórios (ou patronatos, como se dizia no Vêneto): Rivoli, Veneza, Oderzo (que se tornou também colégio-escola), Vicença, Bassano, Rovereto (que era também orfanato), Correggio (também internato), Carpi. (Observação do tradutor: Quando neste texto se fala em colégio entende-se internato).
O oratório era um tipo de atividade preferida por Murialdo: nos primeiros oratórios ele havia começado seu sacerdócio e tinha percebido que aquele era o caminho para reunir muitos meninos que de outra maneira não teriam tido outras possibilidades para usufruir de uma formação religiosa, aprender a ler, escrever, somar, ocupar de modo sadio, divertido e educativo seu tempo livre. «Rezar, aprender, jogar: eis o oratório»: esta frase resume a pedagogia oratoriana de Murialdo e dos Josefinos (Scritti, XI, pp. 33, 87, 112; XIII, pp. 228, 230, 289).
O oratório além disso acolhia de preferência meninos e jovens das classes populares, muitas vezes também pobres, e, portanto, situava-se no âmbito do carisma apostólico murialdino e josefino. Enfim era uma obra economicamente mais “leve” em relação aos orfanatos e colégios, porque não devia providenciar a comida e a roupa, o alojamento e a preparação profissional dos meninos. Por estes e outros motivos, os oratórios, os patronatos, os centros juvenis são um «lugar educativo» que não acaba quando acaba a atividade dos Josefinos. Poder-se-iam elencar alguns dos principais oratórios josefinos, fornecendo datas de abertura, a partir de 1900: Spresiano e Pádua (1902), Roma (1904, na Rua Campani), Thiene (1913), Torino (1928, anexo à paróquia da Salute), Lucera (1930), Viterbo (1946), Santiago (1947), Roma (1958, junto a Basílica de São Paulo), San Giuseppe Vesuviano (1986), Sigüenza (na Espagna, 1994), Fier (na Albânia, 1998), Popesti-Leordeni (na Romênia, 2000), Madrid (2001).
Mas o elenco não está completo: dever-se-iam acrescentar muitos oratórios e centros de juventude que estão nas paróquias josefinas completando suas atividades. Aqui quisemos lembrar alguns centros que eram ou que são somente ou prioritariamente, de caráter oratoriano. Por um lado educam e quase sempre também previnem contra os males, como Murialdo deixava claro, relatando de ter testemunhado o famoso «processo dos meninos» que acontecera em Turim em 1885: na prisão havia uns vinte jovens de 12 a 18 anos, todos pertencentes a uma facção organizada para o roubo e a violência. Um bombeiro, também ele testemunha do processo, expunha a Murialdo a sua decepção diante dos imputados, «tão jovens e tão perversos». Quando pequeno ele frequentava o oratório, onde havia também aula, missa, oração, jogos e não lhe teria nunca passado pela cabeça a idéia «de roubar, ou fazer outras malandragens» (Scritti, XIII, pp. 226-227).
2. Uma resposta de amor: o colégio
A congregação de São José nasceu no Colégio dos Artigianelli de Turim antes de tudo para assegurar que houvesse um grupo disposto e estável de educadores para os meninos lá assistidos. Muitos eram órfãos de um ou de ambos os pais, muitos tinham uma família que pela pobreza ou por outras dificuldades graves não tinham condições de educá-los.O colégio acolhia de 180 a 200 jovens, mas os pedidos de admissão eram muito mais numerosos, mesmo considerando que os meninos batiam à porta de vários institutos e ficavam aguardando vaga, na esperança de poder entrar num deles.
Pelos anos 1874-1884 o registro dos pedidos de admissão ao Colégio dos Artigianelli traz o número de mais de 1700 meninos. Com freqüência há também anotações sobre os pais e sobre a família, frases breves que resumem histórias de miséria e abandono: «o pai ausente; beberrão»; «a mãe paralítica há oito anos»; «a mãe viúva, vive numa casa de aluguel no interior, com sete filhos»; «o pai foi embora; não se tem notícias»; «o pai se suicidou depois de ter matado a esposa»; «sozinho no mundo e abandonado»; «o pai morreu na América, a mãe fugiu de casa e há nove meses não se sabe onde ande».
A pobreza e o abandono destes meninos se multiplicava em outros lugares, não só então, mas também nos decênios seguintes. Por exemplo, em Bérgamo, onde em 1904 os Josefinos assumiram a direção do Orfanato Maschile. Em Foggia, onde em 1928 encontraram um instituto com uns sessenta órfãos, mas sem um pátio para jogar: para não entrar em conflito com a administração que lhe havia confiado a casa, os confrades usaram a tática de ir aos poucos conquistando o espaço ocupado pelo jardim interno(hoje cortava-se uma árvore e, ocupava-se um canteiro amanhã...sem dar na vista), a fim de ter um lugar para o lazer dos meninos (Ambrosio, 1986, p. 55).
Em 1932 os Josefinos assumiram a direção de um outro instituto para meninos abandonados, o Camerini Rossi de Pádua. Logo que entraram, eles procuraram «mostrar aos meninos com uma suave firmeza, afeto sincero e interesse efetivo para seu bem estar material e moral». Foi melhorada a comida e a roupa, foi aprimorada a disciplina, cuidou-se mais da formação intelectual com o início de atividades de reforço escolar (Cronistoria, I, p. 168). No ano seguinte foi aceita uma outra casa para órfãos, a «Tota Giovanni» de Roma. Dizia-se então, que a obra estava «bem de acordo com o programa da nossa congregação», embora se não se escondessem as preocupações pelo fato que os meninos frequentavam as escolas externas, ou as oficinas da cidade, com o perigo de influências negativos na educação que se procurava ministrar (Cronistoria, I, pp. 174-175).
Institutos mais ou menos semelhantes foram abertos em Viterbo (1936) e, no segundo após-guerra, em Arcugnano (1947), Mirano (1952), Ênego (1953), Cefalù (1955), Montecatini (1961) e naturalmente também além dos confins italianos: Babahoyo (Equador, 1931); Villa Nueva (Argentina, 1939); Pelotas e Caxias do Sul (Brasil, 1947). Obras que permitiam a milhares de meninos transcorrer uma adolescência serena, estudo e preparação de maneira segura e eficaz para a vida adulta, não obstante as condições precárias de sua vida infantil.
3. Das escolas de artes e profissões aos centros de formação profissional
A congregação de São José nasceu num colégio que era também escola de artes e profissões: havia sapateiros, ferreiros, carpinteiros, costureiros de livros, alfaiates, escultores, tipógrafos, torneadores de ferro. Numa carta de 1871 Murialdo afirmava que seus meninos, todos órfãos e abandonados, se não tivessem tido «um abrigo para aprender uma profissão e receber uma educação cívica e intelectual, religiosa», teriam facilmente ido «morar nas prisões» (Ep., I, 326). Ele estava convencido de que a instrução, a educação religiosa e moral não podiam estar dissociadas da educação profissional: somente um trabalho honesto teria garantido o futuro dos seus jovens: «Vocês estão neste instituto: 1°, para serem educados cristãmente; 2°, para aprenderem uma profissão e assim ganhar o pão para toda a vida; porque, como diz o provérbio, “quem tem uma profissão, possui seu quinhão”, isto é, possui uma herança, tem o necessário para viver. E mais, quem tem uma profissão, isto é, domina bem seu trabalho, tem uma grande ajuda para viver honestamente, ou melhor, cristãmente» (Scritti, X, p. 258). Por isso, junto com outros educadores do século dezenove, ele resumia o seu programa afirmando que desejava que seus meninos se tornassem «honestos cidadãos, operários ativos e empreendedores, sinceros e virtuosos cristãos» (Scritti, X, p. 119).
A atividade nas escolas de artes e profissões continuou também depois, dentro e fora da Itália. Aceno algumas profissões, a partir do segundo pós-guerra: tipografia, marcenaria e mecânica em Villa Nueva de Guaymallén (Argentina, 1951); centro de preparação ao trabalho profissional em Mirano e Roma (1952), Thiene (1953), Cefalù (1956), Viterbo (1958), Rossano Cálabro (1965), Rio de Janeiro (1969), Ahuano e Guayaquil (Equador, 1971 e 1973), Londrina (Brasil, 1976).
Enquanto isso na Itália as escolas de artes e preparação para o trabalho mudaram de nome e se tornaram centros de formação profissional, com uma formulação e organização que os Josefinos atuaram também em outras nações, adaptando-se, naturalmente à legislação e exigências dos vários lugares. Surgiram, assim, numerosos centros de formação profissional, novos ou fruto da transformação da realidade pré-existente: Nichelino (1979), Acquedolci e Pinerolo (1981), Cesena (1982), Ravenna (1985), Bula (Guinea Bissau, 1986), Valparaiso (Cile, 1988), Kissy (Sierra Leone, 1991), Città del Messico (1992), Bérgamo (1993), Bissau (Guinea Bissau, 1994), Fier (Albânia, 1996), Quito (Equador, 1996), Porto Alegre (Brasil, 1998), Getafe (Spagna, 1999), Azuqueca de Henares (Espagna, 2000)... Um capítulo à parte mereceriam os institutos técnico-comerciais.
O mundo da formação profissional está em contínua e rápida evolução e é difícil seguir suas transformações. As Linhas de pastoral josefina (n. 4.2.3) convidam os confrades e os colaboradores «a desenvolver uma pastoral com os jovens operários dando preferência na preparação profissional àqueles que tem menor escolaridade, promovendo também formas de inserção no trabalho (escolas de empregos...) e encaminhamento para um trabalho próprio (cooperativas, artesanato...)». Como Josefinos somos desafiados a conjugar a qualidade da formação ao trabalho e acompanhando a formação nas faixas etárias dos jovens mais fracos e mais expostas aos riscos da marginalização e de desvios de conduta; a manter igual atenção aos jovens e à demanda do mercado, muitas vezes interessado pela requalificação dos operários adultos; a acompanhar a inovação tecnológica, a projetação, as verificações, os procedimentos burocráticos, os controles de qualidade,... sem esquecer a formação religiosa, que é o objetivo primário da nossa ação.
4. As colônias agrícolas
No século XlX as colônias agrícolas eram na maioria das vezes orfanatos e internatos para meninos pobres. Exigiam despesas menores em relação aos institutos situados na cidade e ofereciam a possibilidade de ensinar aos meninos os elementos dos trabalhos agrícolas. Muitas vezes, porém, os jovens não sentiam atração por uma profissão agrícola; e, de fato, era a cidade que oferecia maiores possibilidades de trabalho. Além do mais, a ideologia do trabalho como fonte de exercício de virtude e como meio de reabilitação e de prevenção, embora válida em si, transformava frequentemente as colônia agrícolas em institutos de correção que vinham substituir as lacunas da rede insuficiente dos reformatórios (Febéns) do Estado.
Não obstante isso, algumas congregações religiosas atuaram também no campo da formação agrícola: recordemos, por exemplo, os Somascos, os Irmãos da Misericórdia, os Benedititnos, os Josefinos, os Salesianos, os religiosos do Padre João Piamarta, os Orionitas e os Guanelianos. Para todos, porém, tratava-se de um campo de apostolado que ocupava um número restrito de confrades e de casas.
Os Josefinos trabalharam na colônia agrícola de Bruere, perto de Rívoli (Turim), fundada por São L. Murialdo em 1878. Por vários decênios aquela instituição, muito bem conduzida pelo sobrinho de Murialdo, Carlos Peretti, constituiu um modelo para outras escolas similares que eram fundadas ou reorganizadas por entidades morais e de congregações religiosas na Itália. Uma pessoa de destaque para a colônia de Ríovoli foi o Irmão Guido Blotto (1867-1916), agrônomo e professor de química agrária o qual desempenhou um papel importante não só para o desenvolvimento da casa onde trabalhava, mas em todo o movimento agrário do Piemonte. Com o tempo, porém, Bruere perdeu sua primitiva identidade e depois da segunda guerra mundial se transformou em Escola de preparação para o trabalho industrial e depois em escola de ensino médio reconhecida legalmente, enquanto os terrenos continuavam sendo cultivados, mas como fazenda e não mais com uma finalidade de formação profissional.
A congregação tentou, mais tarde, outras experiências semelhantes, nem todas com êxito. Aquela do Rio Saliceto, perto de Correggio (RE), iniciada em 1900, foi encerrada já no ano seguinte. Mais longa foi a permanência em Castel Cerreto, perto de Treviglio (BG). Aqui os confrades entraram no final de 1902 e em janeiro de 1903 começaram a acolher alguns meninos do Orfanato de Bérgamo, até 1917, quando os órfãos foram transferidos na nova sede do Orfanato Maschile, ao sopé das colinas de Bérgamo Alto.
Em 1904 os Josefinos entraram na Líbia, em Bengasi: aqui também foi aberto um orfanato, com escola profissional e colônia agrícola, até 1922. A missão do Brasil, iniciada em 1915 com a paróquia da Quinta, no Estado do Rio Grande do Sul, assumiu uma escola agrícola, na mesma localidade, da qual os Josefinos se retiraram em 1922.
Em 1915 os Josefinos aceitaram a direção da colônia agrícola de Bufalotta, perto de Roma: aí se transferiu, embora de modo não definitivo, aquele Guido Blotto que estava fazendo tanto bem no Piemonte e que, depois, exatamente em Bufalotta virá a falecer prematuramente de pneumonia, no dia 31 de maio de 1916. Em Bufalotta os Josefinos permaneceram até 1952. Outros institutos agrícolas, mais ou menos duradouros, foram assumidos em Sezze Romano (1926), Santo Stefano Belbo (1929), Vascon (1931), Trípoli, na Líbia (1933), Morrison, na Argentina (1940), Pinerolo (1940), Ana Rech, no Brasile (1942), Segezia (1947) e Archidona, no Equador (1968). Essas presenças se extinguiram ou foram totalmente transformadas, também se algum interesse dos Josefinos pelo mundo agrícola continua com cursos de agricultura dos centros de formação profissional que se encontram na Serra Leoa e Guiné Bissau, ao lado de outras iniciativas paralelas, como as lavouras destinadas para o sustento da vida da missão, o apoio às atividades dos agricultores (horticultura, apicultura...), a formação de cooperativas agrícolas e construção de centenas de poços.
5. Das escolas elementares aos liceus
«Abrir uma escola é fechar uma prisão». Esta frase aparece mais vezes nos escritos de Murialdo (Scritti, XI, pp. 27; 33; 88; 103). A imprensa de seu tempo a atribuía a Victor Hugo, o qual a teria escrito ou pronunciado na formulação seguinte: «Cada escola que se abre se fecha uma prisão» («La Voce dell’Operaio», n. 13 del 29 marzo 1914, pp. 1-2). Esta frase baseia-se na idéia de que a instrução eleva a mente e o coração e previna o crime, tornando assim desnecessárias as prisões. Mas cada vez que a pronunciava, São Leonardo recordava também que a simples instrução, sem a educação religiosa (que é também educação do coração, isto é, de toda a pessoa) não é suficiente para salvar os jovens do vício e da ilegalidade.
As escolas nas quais Murialdo se ocupava eram as de nível elementar criadas nos oratórios, nas patronatos, nos colégios para meninos pobres e abandonados. Eram também as de caráter profissional do Colégio dos Artigianelli, do reformatório de Bosco Marengo, da colônia agrícola de Rívoli. Mas quando a congregação dos Josefinos abriu um patronato, isto é, um oratório em Oderzo, no Vêneto (1889), foi pedido quase de imediato de trabalhar também num colégio-escola para meninos de classe média. Discutiu-se no Conselho Superior (o Conselho geral de então), porque «aceitar escolas de ginásio» parecia algo contrário «ao espírito da congregação» (livro de Atas de 29 de abril de 1892). Por fim se acabou aceitando, devido às pressões do bispo local, para que não faltasse uma escola católica naquela região e porque o ginásio se encontrava ao lado de uma atividade eminentemente popular, o oratório.
Desde então o apostolado escolar, também superior, entrou de direito entre as ocupações dos Josefinos. As Constituções de 1904 apresentavam os vários campos de sua atividade e falavam da «instrução escolar e nas artes a ser ministrada aos meninos e adolescentes nos colégios, nas escolas, nas oficinas, nas colônias agrícolas, nos orfanatos [...] e em outras obras pias semelhantes, de acordo com a demanda das circunstâncias, dos lugares e dos tempos» (art. 3).
Eis que agora surgem os colégios e as escolas, algumas também para meninos «de civil condição», como se dizia então: Módena (1899), Rívoli (1919), Albano Laziale (1923), Santa Margherita Ligure (1932). Mas são apenas algumas comunidades, entre tantas que se poderiam elencar. E depois há as escolas abertas nos países sul-americanos, na convicção de que a formação religiosas não pode estar dissociada da instrução e do crescimento cultural. Eis então, sempre nos limitando a alguns exemplos, as escolas do Equador (Ambato, 1923; Archidona, 1927; Salinas, 1947; Tena, 1948; Quito e Guayaquil, 1950...), no Brasil (Ana Rech, 1929; Araranguá, 1955; Porto Alegre, 1961...), na Argentina (Villa Bosch, 1944; Buenos Aires, 1948; Mendoza, 1953; Rosario de la Frontera, 2005), Chile (Santiago, 1948; Requínoa, 1950; Valparaiso, 1962...), Spagna (Sigüenza, 1961; Orduña, 1965), Serra Leoa (Lunsar, 1979).
Diferentemente de outras nações, na Itália é mais difícil manter as escolas josefinas, por causa da discriminação econômica que afeta as escolas católicas. Contudo, as escolas oferecem uma boa possibilidade de evangelização: encontram-se muitos meninos e jovens, pode-se interagir com eles durante todo o dia, também com atividades extra-classe, tem-se a colaboração de muitos leigos, homens e mulheres, que podem se tornar verdadeiros educadores de acordo com o carisma de Murialdo.
6. As palavras de Murialdo: «pobres e abandonados...»
O texto mais conhecido de Murialdo a respeito dos jovens pobres é aquele que contém as famosas palavras: «Pobres e abandonados: eis os dois requisitos que constituem um jovem como um dos nossos...» (Scritti, V, p. 6).
Foi redigido para uma conferência para os mestres-assistentes do Colégio dos Artigianelli, em 1869, e depois foi proposto de novo em 1872.
Esta expressão deve ser entendida nas suas origens, como dirigida para explicar quais eram os meninos acolhidos pela Associação de Caridade e em particular aqueles do colégio. Entrou, porém, no Regolamento della Congregazione di San Giuseppe de 1873, confluindo assim para o carisma josefino, e, com o tempo, naquele da Família de Murialdo, realidade mais ampla, nascida pouco a pouco, diversos decênios mais tarde.
«Pobres e abandonados: eis os dois requisitos que constituem um jovem como um dos nossos, e quanto mais pobre e abandonado, tanto mais é dos nossos. A qualidade de órfão, embora expressa no carimbo do Colégio, não é acenada no decreto de aprovação da Obra, e de fato(sic) não é necessária para a admissão (sic).
Pobres e abandonados! Quanto [é] linda a missão de ocupar-se da educação dos pobres! E como é mais linda também, aquela de procurar, de socorrer, de educar, de salvar para o tempo presente e para a eternidade os pobres abandonados!
Abandonado [sic] moralmente se não o for materialmente.
[...] Os nossos jovens são pobres, são crianças e acrescentemos também, às vezes, são tudo, menos inocentes.
Mas esta última característica, embora em si não amável, deve [sic] talvez fazer com que nossos jovens sejam menos queridos? Menos, passe a expressão, menos interessantes?
Talvez nós esquecemos alguma vez esta condição dos jovens a cujo bem nós queremos consagrar a nossa vida. Logo que um jovem se mostra de índole infeliz, ou mesmo perversa, de caráter indisciplinado e pouco disciplinável, refratário à educação, orgulhoso, cabeçudo e reincidente no mal, ou pior caindo de mal a pior nos desgostamos, desanimamos, e gostaríamos que aquele pobrezinho nos deixasse em paz sumindo de nossa vista ele e seus vícios.
Que um jovem com quem resultou vã qualquer esforço (desde que se tenha empregado inutilmente todos os meios), um jovem que além de não melhorar não oferece esperança alguma de melhora, um jovem, especialmente que estrague e corrompa os colegas inocentes, que um tal jovems deva ser tirado da companhia dos outros, quem o poderá negar?
[...] Mas não se queira, todavia, ser demais inclinados a se cansar, a desanimar, a desesperar. Não se esqueça que acolhendo abandonados, devemos esperar de encontrar jovens cheios de ignorância, de selvageria, com todos os vícios que nascem de um estado de abandono.
Se se tratasse mesmo de jovens pertencentes a famílias educadas e cristãs, não deveríamos estranhar de encontrar defeitos e mesmo vícios nos meninos; porque se já fossem perfeitos, por que educá-los? E os pais nos confiam seus filhos para educar, como acontece, por vezes, com uma terra inculta, dura, árida para ser cultivada, trabalhada, preparada, arrancando dela as ervas maligna, antes de jogar nela a boa semente.
Pois bem o que devemos esperar nós que recebemos meninos retirados da rua, ou, às vezes, que saem das mãos de pais ou mal educados ou escandalosos?
[...] Sua miséria moral nos deve comover mais, muito mais do que a material: e em vez de se indignar, ou de deixar-se vencer pela impaciência e a desesperança, nos deve animar a trabalhar com ânimo e cheios de compaixão com estes infelizes, realmente muitas vezes mais infelizes do que culpados, e iguais seríamos nós a eles, se como eles tivéssemos sido abandonados. » (Scritti, V, pp. 6-8).
7. Aatenção aos sinais dos temos
Esta frase se tornou famosa depois do Concílio Vaticano II. E’ claro que não pode ser encontrada em Murialdo. Mas a atitude expressa por ela foi certamente uma das suas características: saber olhar as situações em que vivia como o chamado de Deus, apelos ao empenho no serviço dos jovens.
Numa sua intervenção no congresso católico do Piemonte em 1880 ele convidava os ouvintes a «volver o olhar ao redor» deles, a abrir os olhos sobre a realidade dos jovens pobres, do ponto de vista econômico e moral. Tirava depois a conclusão da necessidade de obras educativas (então eram sobretudo os colégios). Até àquela época, afirmava em outra circunstância (1883), se tinha pensado muito nos jovens bem de vida, «mas colégios para abandonados, para os órfãos, , colégios nos quais se ensinasse o trabalho para se ganhar o pão, ou não existiam, ou eram muito raros. E, no entanto, se sentia absoluta necessidade» (cf. Scritti, IX, p. 8).
O congresso do qual se falou era a segunda reunião católica do Piemonte, tendo sido realizada em Mondovì, na província de Cúneo. A palestra que Murialdo pronunciou continha um apelo a fim de que se desse atenção aos jovens pobres: era uma solicitação para uma ajuda material, mas mais ainda educativa e religiosa.
«Volvei um instante um olhar ao vosso redor. Vede quantos meninos pobres, abandonados, transviados, na cidade e no interior. Vitimas infelizes da miséria, e muitas vezes do vício alheio, vagueiam pelas ruas, pelas praças, pelos prados e pela colônias. São órfãos, ou foram abandonados pelo pai que emigrou num país distante. Não tem ninguém que os ensine qual seja seu nobre destino, que os faça amar a virtude, que os ajude a fugir do vício, que abraçaram, sem conhecer ou avaliar bem seu horror.
À mercê de seus caprichos, aliciados por jovens mais adultos e já experientes do crime, crescem no ócio, na ignorância e na escravidão das paixões que agora estão apenas despontando, mas que, se não forem combatidas, crescerão como gigantes.
Eis o povo do futuro, ele será aquele que o tiverdes feito: cristão ou ímpio, submisso às leis ou revolucionário. Estes meninos, que serão homens daqui a pouco, frequentarão a Igreja ou as bodegas, viverão de seu trabalho ou do furto e da rapina, serão a honra da família ou os inscritos nas lojas anti-sociais, defenderão a pátria ou incendiarão os monumentos.
Hoje, vocês podem se achegar a estes pequenos, educá-los, torná-los cristãos. Amanhã será tarde demais: eles fugirão, seduzidos pela doutrina da incredulidade.
E’ uma das questões mais graves que se enfrenta no humilde e silencioso trabalho dos institutos de educação popular. Reflitam neste grande perigo social e venham estender uma mão a quem tenta debelar os perigos que ameaçam a sociedade» (Scritti, IX, p. 153).
8. Jovens pobres ou travessos
Para perceber o modo com que foi percebido o carisma apostólico da congregação josefina nos primeiros tempos, é preciso ler o Regulamento de 1873. E’ a regra sobre a qual São Leonardo e os primeiros sacerdotes e clérigos professaram no dia da fundação da congregação, aos 19 de março de 1873. Nela se encontra o ideal da congregação que São Leonardo e os seus primeiros colaboradores sonhavam e desejavam. O primeiro artigo afirma que a congregação de São José se propõe a santificação dos confrades «mediante as obras de educação dos jovens pobres ou travessos», isto é, problemáticos, difíceis, «maldosos». Todo o Josefino se tornará para cada um dos jovens «amigo, irmão e pai» (art. 4).
O artigo n.10 elenca os âmbitos nos quais a ação dos Josefinos podia se tornar presente: colégio dos Artigianelli (isto é, de jovens que se encaminham para o trabalho), orfanatos, reformatórios, penitenciárias, colônias agrícolas, escolas operárias, oratórios festivos, patronatos e «qualquer obra que contribua para vir ao encontro da juventude pobre ou para a emenda dos jovens que precisam de correção».
Delineando as obras da congregação, o Regulamento de 1873 insiste que não se trata simplesmente de acolhida e de instrução dos «jovens pobres, órfãos ou abandonados ou mesmo somente travessos», mas da sua «educação cristã» (art. 176).
«A congregação, portanto, viverá entre os jovens mais necessitados de ajuda material e moral, e a esta, depois de Deus, dedicará todos os seus pensamentos e dispensará todas as mais amorosas solicitudes» (art. 177).
«Entre seus jovens (os Josefinos) portar-se-ão como amigos, irmãos e pais, ama-los-ão em Deus com todo seu coração e terão por eles um profundo respeito, em particular com os mais pequenos, mais pobres, mais doentes e mais necessitados de ajuda» (art. 183).
Os confrades são convidados a preferir «os jovens que a natureza menos favoreceu e pelos quais se sente menos propensão» (art. 186).
Em 1875 se fez por escrito um resumo do precedente Regolamento, o assim chamado Ristretto, o qual, depois de aprovado pelo arcebispo de Turim, entrou em vigor em lugar do Regolamento de 1873.Retomava o convite, já presente no texto anterior de «reconhecer nos jovens os mesmos membros de Jesus Cristo», acrescentando, porém, a referência a São José como modelo de educador: «felizes por poder continuar entre os jovens pobres a invejável missão de São José para com o divino Menino Jesus» (art. 8).
Comentando o Ristretto, Pe. Reffo afirmava que a Congregação tinha «uma meta a ser alcançada e um caminho para lá chegar».A meta era aquela de qualquer vida religiosa e, diríamos melhor hoje, de qualquer vida cristã, aquela da santificação; a estrada era o empenho na educação «dos jovens pobres ou necessitados de correção» ([Eugênio Reffo], Spiegazione ... del ... Ristretto..., p. 42). Esta estrada dava à nossa congregação o seu caráter distintivo: «Deus [...] quer [...] que [...] nos tornemos santos com a educação de juventude pobre» (ivi, p. 47). Pe. Reffo acrescenta que não se tratou nem sequer de uma escolha feita pelos primeiros fundadores: foi a mão de Deus que os pôs em contato com os jovens pobres para o nascimento daquele grupo de religiosos (p. 48).
Enfim, o Pe. Reffo escreve que, junto com a juventude pobre, «nós admitimos que faça parte de nossas solicitudes, também aquela necessitada de correção. Se o trabalho é mais penoso e duro e sem consolações, é, porém, mais caro a Deus. São numerosas entre nós as instituições, também de religiosos, que se ocupam com a juventude que estuda [...], não faltam obras pias para as doenças físicas dos meninos, mas bem poucos assumem a terapia das doenças morais daquela juventude da qual a pátria e a religião mais deve temer» (p. 49).
9. Pe. Júlio Costantino, sucessor de Murialdo
Depois daquela de 1873 e aquela de 1875, a terceira «Regra» da congregação foram as Constituições de 1904, cuja redação, começada em 1897, se prolongou por vários anos, até depois da morte de Murialdo. Redigidas a aprtir de precisas indicações jurídicas da Sé Apostólica, estas Constituições perderam forçosamente a riqueza carismática, que tinha permeado os textos anteriores. Esta, porém, não foi esquecida, mas foi guardada em alguns documentos complementares sucessivos.
E’ este o período em que a congregação é guiada pelo Pe. Júlio Costantino, que o Pe. José Vercellono em sua biografia definiu o «papai dos jovens».
As circulares que ele escreveu aos confrades não tratam explicitamente do tema dos jovens pobres: falam da missão a ser aberta na Líbia para atender os órfãos de Bengasi e dos pequenos «negrinhos» resgatados da escravidão(circular n. 10) e dedicam atenção à formação espiritual da «pobre juventude, tão cercada de insídias nestes tempos» (n. 27). O apostolado josefino é, portanto, percebido não só em relação à «juventude pobre» (economicamente), mas também à «pobre juventude» como grupo social, se assim se pode dizer, ou categoria geracional, insidiada por tantos perigos morais. Ele, de qualquer forma reafirma o empenho para a juventude em geral, «especialmente se for pobre» (n. 28).
Quem seja o Pe. Júlio Costantino, primeiro sucessor de Murialdo na condução da congregação e em que consistiu sua contribuição em delinear o carisma para os jovens pobres pode-se deduzir mais de sua vida do que daquilo que deixou (por exemplo, suas cartas circulares no período que foi superior geral).
Órfão de mãe, entrou no colégio dos Artigianelli, onde aprendeu o ofício de sapateiro. Tinha depois se tornado Mestre, assistente e sacerdote. Primeiro foi prefeito de disciplina no Colégios dos Artigianelli e depois diretor do reformatório de Bosco Marengo, perto de Alessandria, d 1872 até 1883. Tendo voltado a Turim, foi diretor dos laboratórios do Colégio dos Artigianelli e da casa família perto da igreja de Santa Júlia.
Na vida descrita pelo Pe.José Vercellono se lê: «A bondade do Pe. Costantino tinha uma característica simples, familiar e todos a consideravam imitável. [...] Desejava que sua bondade fosse imitada pelos confrades assistentes e mestres. Nas conferências semanais os instruía na prática das virtudes religiosas e sobretudo recomendava-lhes a paciência e a doçura com os jovens. Repetia frequentemente: “Estes jovens são a nossa razão de ser, a congregação de São José existe para eles, para a sua educação cristã e técnica, são os nossos patrões [...] Devemos ser seus servidores”.
Desejava que o reformatório se tornasse um família na qual reinasse a ordem, o respeito mútuo e, sobretudo, a confiança. Procurava com todos os modos, que os jovens acolhidos se encontrassem bem, amassem aquela grande casa até terminar o tirocínio, e, saindo, tivessem condições de se ganhar o necessário para a vida exercendo uma profissão.
[...] Um daqueles jovens, lembrando, depois de cinquenta anos, seu diretor de Bosco Marengo, escrevia: “O Pe.Costantino era alto de estatura, bem proporcionado e de extraordinária robustez. Tinha um caráter meigo e conosco estava sempre sorridente. Para o nosso bem fazia qualquer sacrifício, era mais do que um pai, tinha por nós a ternura de uma mãe. Eu gostava daquele gigante, que com suas grandes e delicadas mãos cuidava de meus males de criança» (Giuseppe Vercellono, D. Giulio Costantino papà dei giovani, Libreria S. Giuseppe degli Artigianelli, Torino 1939, pp. 123-126).
10. Pe. Reffo, o legislador
Escrever regras e estatutos era uma habilidade específica do Pe. Eugenio Reffo. São Leonardo lhe confiava o encargo de redigir os regulamentos necessários ao Colégio dos Artigianelli e os textos legislativos da congregação. As páginas que o Pe. Reffo escreveu com esta finalidade (as assim chamadas «minutas») testemunham o diálogo e a interação entre ele e Murialdo, com a participação também de outros confrades, com o objetivo de ser mais preciso possível na expressão das idéias, valores, estilos de vida e métodos educativos que se queria «fixar» nas regras. O Pe. Reffo escreveu uns comentários à regra da congregação (a gente já viu isso) e deixou também alguns manuscritos que continham suas reflexões sobre a vida religiosa dos Josefinos, sobre seu apostolado e seu estilo educativo. Também nos seus escritos volta a afirmação de que a congregação estende seu apostolado «a todos os meninos e adolescentes, aos pobres e aos ricos, mas preferindo os pobres, os jovens necessitados de correção» (Eugenio Reffo, Il fine della Pia Società Torinese di San Giuseppe, Tipolitografia PP. Giuseppini, Pinerolo [1961], p. 123).
Comentando as Constituições de 1923, que falavam da educação dos meninos e dos adolescentes, Pe. Reffo escrevia: «abraça-se assim toda a idade juvenil que se estende desde a primeira infância até lá onde se estende a adolescência[...] Mas quais condições de jovens compreende nosso instituto? Responde o artigo 109 das mesmas Constituições, no qual se declara que o apostolado de nossa Pia Sociedade é a institutio puerorum vel adolescentium, praesertim pauperum [a educaçãodos meninos e dos adolescentes, especialmente se pobres].
Nestas palavras está explicada a intenção do nosso Venerável Fundado Murialdo que, entre os filhos de famílias opulentas e aqueles de famílias pobres, se dê sempre a preferência a estes últimos. Dessa forma os opulentos não serão excluídos, mas os pobres serão os preferidos, como a parte melhor do campo que Deus nos confiou. Isto está de conformidade com a mesma origem da Congregação, a qual nasceu no seio de uma instituição (Artigianelli de Turim) que tem como seu programa a educação dos jovens pobres, órfãos ou abandonados.
E’ verdade que a Pia Sociedade, desde a fundação, saiu da exclusividade deste programa, mas fez isso por causa das necessidades dos tempos, nos quais tantos jovens de melhores condições não tem menor necessidade de educação cristã, do que aqueles que nada tem ou foram privados.
Assim, apresentando-se a ocasião, a congregação, sem alterar minimamente seus estatutos, abre pensionatos ou colégios também para famílias opulentas, preferindo também as de classe média. Tais jovens tem mais afinidade com os pobres e se adaptam mais aos estudos e à forma de ser própria da nossa congregação. Isto, porém, se deve fazer de modo que, para favorecer os jovens mais ricos, não só não se deixem de lado os pobres, mas, antes, estes tenham a parte melhor de nossas ocupações.
E’ depois desejável, embora nas Constituições não esteja prescrito, que, ao lado de um colégio mais distinto, se institua e se faça florescer alguma obra para os jovens pobres, de modo que os nossos confrades, chamados pela obediência a uma classe mais elevada de jovens, não esqueçam o que é mais próprio da nossa vocação» (Reffo, Il fine..., pp. 121-123).
11. Pe. Reffo, o educador
O Pe. Eugênio Reffo não era somente um hábil compilador de regulamentos, nem só um ótimo autor de representações teatrais, ou um arguto jornalista. Era também um bom educador e mestre de educadores. Passou toda a sua vida no Colégio dos Artigianelli, em contato com os jovens pobres, dedicando-se totalmente ensinado aos jovens a arte de ser por suas vez educadores. O testemunham as cartas com que seguia e encorajava os jovens josefinos, às vezes desgostados por algum insucesso, sobretudo com os meninos mais difíceis. Eis então o Pe. Reffo que os convida a olhar com otimismo aos jovens, a procurar neles o que poderia existir de bom, a crer nos pontos positivos e enfim tratá-los sempre com doçura e misericórdia.
O Pe. Marcos Apolloni, jovem sacerdote josefino com 26 anos, tinha pedido ao Pe. Reffo de ser transferido de Rovereto para outra instituição por causa das dificuldades de trabalhar com os meninos «ruins, intratáveis». O Pe. Reffo lhe responde no dia 15 de julho de 1905: « Escuta, Marcos, tu procedes assim: esforça-te para assistir bem de dia e de noite, conta ao Diretor o que vês e o que sabes, e depois deixa a ele a responsabilidade de tudo. A ti basta ter feito a tua obrigação e Deus não te pedirá conta de outra coisa. Recorda-te, aliás, que quando Tiago e João queriam invocar o raio sobre Samaria, o bom Jesus disse-lhes: «filhos do trovão».
Mas tu me pedes como deves fazer, como comportar-te com estes canalhas.
E eu respondo:
1. Não os chames de canalhas estes pobres meninos, cometes uma injustiça só em pensar nisso. Procura, ao contrário de te persuadir que são melhores do que aquilo que pensas, e que não os conheces ainda perfeitamente.
2.Vai com calma, seja para os repreender, seja para castigá-los. Persuade-te que se ganha mais perdoando do que castigando.
3. Procura convencer também os outros assistentes com teu exemplo e com tuas palavras a tratar com brandura e não mais com severidade estes pobres meninos.
4. Caso por caso consulta o Diretor, e fica naquilo que ele te disser, ainda que para ti não pareça nem justo, nem prudente; obedece e não te arrependerás.
5. Última regra: a melhor, aliás a única, aquela dada por São Paulo, muito breve, mas eficaz, infalível: «vence o mal com o bem».
São ruins? e vós sois bons. São piores ainda? e vós melhores ainda. Chegam até a ser péssimo? E vós sois ótimos, de uma bondade excepcional, inalterável. Esta é a regra das regras. Sabes por que muitas vezes não se alcança nada? Quer-se vencer a malícia dos meninos com uma malícia maior, quer-se uma vitória à custa de espertezas e maldades. Este é exatamente o avesso daquilo que ensina São Paulo.
Precisaria escrever um tratado para dizer tudo, mas eu me limito somente a isto. Não façais sofrer o pobre Diretor, não queirais saber mais do que ele, ajudai-o e não o atrapalheis, consolai-o como bons auxiliares e cooperadores na obra da educação destes órfãos.
Humildade, grande humildade, reconhecei que sois ainda jovens, e sabeis ainda pouco desta difícil arte de educar. Eu, e pois de 44 anos, confesso de não passar do ABC.
Coragem, pois, porta-te como um homem, (esforça-te) para ajudar o teu Diretor, a confortar os teus confrades, a vos persuadir todos que não sois um covil de ladrões e que os jovens são sempre como nós os formamos» (Eugenio Reffo, Lettere scelte, a cura di Giuseppe Bellotto, Libreria Editrice Murialdo, Roma 1996, pp. 198-199).
12. O famoso Diretório (1936)
Um texto que guiou por vários decênios a vida espiritual, comunitária e apostólica dos Josefinos foi o Direttorio de 1936. Trata das virtudes características da Congregação (a humildade e a caridade), da vida de oração, dos votos religiosos, de muitas modalidades concretas da vida. Contém também um importante capítulo intitulado «Regras para a educação cristã». O convite à humildade e à confiança em Deus, a exortação a ver nos meninos o rosto de Jesus Cristo, de amá-los como os amariam seus pais, a viver para eles, a cuidar com paixão da sua educação cristã... acompanharam o empenho de tantos bons educadores e formaram aquele acervo de tradição educativa josefina e murialdina que ainda hoje constitui a riqueza do nosso carisma.
Este Direttorio afunda suas raízes nos primeiros anos do século XX, quando se percebeu a exigência de acompanhar o texto das Constituições (o código fundamental da vida da Congregação) com algumas «regras», isto é, prescrições de ordem espiritual, apostólica, disciplinar. Foi o Pe.Reffo que compilou estas «regras», revistas depois por outros confrades e publicadas, finalmente, em duas partes, respectivamente em 1906 e em 1907. Foram reimpressas em 1917 e receberam o título de Direttorio com a edição de 1936. Neste texto «se encontra a riqueza espiritual que se tinha perdido no caminho compilando as Constituções [de 1904], não somente, mas também aquela tradição que se tinha formado na congregação, sobretudo, através do ensinamento de Murialdo» (Giuseppe Fossati, Una storia per la vita..., I, p. 64). Naturalmente o tema dos jovens pobres se encontra também neste Direttorio.
«As Constituições declaram que os meninos, objeto da nossa missão, devem ser especialmente os pobres, com estas palavras, não se excluem de todo os jovens de melhores condições, mostra-se que a Pia Sociedade, em geral, se ocupa de preferência dos pobres. Isto está de acordo com o espírito da nossa Sociedade que nasceu no seio da Associação de Caridade para os órfãos ou abandonados de Turim. É preciso, portanto, que onde o exigem as circunstâncias que se tenham obras para jovens de condições sociais melhores, não se deixe de lado os meninos pobres, mas estes sejam acolhidos em patronatos ou escolas gratuitas, para que nunca se perca de vista a parte principal da nossa missão.
As Constituições acrescentam que a Pia Sociedade deve, além dos pobre, dispensar seus cuidados aos jovens necessitados de correção, ministério muito árduo, mas muito meritório e muito recomendado pelo venerando Pe. João Cocchi, que foi o fundador dos Artigianelli, e já exercido por alguns entre os primeiros membros da congregação no reformatório de Bosco Marengo» (Direttorio della Pia Società di S. Giuseppe di Torino, Scuola Tipografica Pio X, Roma 1936, nn. 368-369).
Mais adiante o Direttorio convidava os Josefinos a «cultivar no próprio coração afeto e reverência para todos indistintamente os nossos alunos, também para os mais pobres e menos dotados de capacidade, pelos bons e os maus, pelos dóceis e pelos difíceis, aprendendo a se compadecer e a perdoar muito, reconhecendo sua fragilidade e fraqueza.
Não deixarão de cuidar dos alunos que lhes são confiados, alegando que tem pouca capacidade ou que não correspondem à expectativa, nem se preferirá os meninos de melhores condições sociais em prejuízo dos pobres.
Evitarão toda palavra de desprezo ou títulos ofensivos, também quando devem corrigir alguma falta, e evitarão a todo custo de repreender ou desprezar os meninos pelos seus defeitos naturais, como demonstrar pouco apreço pela sua terra natal, pela condição de sua família, seus pais etc.» (nn. 381-383).
13.A renovação conciliar
O Concílio Vaticano II (1962-65) trouxe uma grande renovação na Igreja e na vida das congregações religiosas. Como as outras, também a família josefina foi convidada a reformular os princípios sobre os quais usava sua espiritualidade e sua ação pastoral. Isto foi feito com um Capítulo Geral Especial (o XIV a partir dos inícios da congregação), celebrado em Roma do dia 30 de março ao dia 8 de agosto de 1969. Dele nasceram os Decretos capitulares que substituíram, ad experimentum, toda a legislação anterior (Costituzioni, Direttorio, Ordinamento generale degli studi).
Foi um “salto qualitativo” confrontado com as Constituições anteriores, em particular do ponto de vista doutrinal e carismático. Sobretudo a riqueza da tradição encontrou nos Decretos capitolares um lugar de honra e o código fundamental de vida da congregação recuperou o sabor e o espírito genuíno das origens. Verdadeiramente se tem um texto “josefino” que apresenta a fisionomia própria da congregação» (Giuseppe Fossati, Una storia per la vita..., I, p. 86). Este texto, com as modificações acrescentadas pelo XV Capítulo Geral de 1970, foi publicado em 1971 com o título Documenti capitolari. O capítulo sobre o «apostolato josefino nas suas diversas formas e ambientes» reúne muito bem a riqueza carismática e atualização pastoral e educativa.
Os Documentos capitolares de 1969 correspondiam ao apelo que o concílio tinha dirigido aos religiosos, convidando-os a voltar às fontes, isto é, a seu espírito primitivo, e ao mesmo tempo a procurar a modalidade de uma eficaz adaptação às mudadas condições dos tempos (n. 784).
Estes afirmavam: «a nossa congregação quis se qualificar, desde os seus inícios, por uma especial sensibilidade às exigências morais e sociais da juventude pobre e necessitada. O apostolado educativo em favor desta juventude, nosso fim específico, deve, por isso, também hoje ser considerado, de direito e de fato, como prioritário » (n. 785).
Os Documentos lembravam depois a abertura de obras dirigidas aos jovens de classe mais abastada, para a quais se tinha sempre desejado «que houvesse anexas, possivelmente, atividades em favor dos pobres» (n. 786).
Insistia-se, além disso, num conceito já presente no Regolamento de 1873: também se a juventude era o fim primário das obras josefinas, não era «alheio ao espírito da congregação atender os adultos da classe operária, com a instrução e a pregação» (n. 787). As paróquias depois deviam «ter uma impostação pastoral peculiarmente josefina em favor das classes mais sofridas» (n. 788).
«O fim e o empenho apostólico, que caracterizam essencialmente a congregação, adquirem hoje uma validade ainda maior, porque tanto o problema da juventude, sobretudo, daquela menos amparada socialmente e moralmente, quanto o problema da promoção da classe trabalhadora, entram entre os sinais mais significativos do nosso tempo e são objeto de cuidado particular por parte da Igreja » (n. 790).
Delineando enfim a figura do Josefino educador, os Documentos capitolares afirmam que ele «se dedica com predileção àqueles aos quais faltam os bens e o afeto [e] àqueles que são menos dotados de dotes naturais» (n. 858). Muitos números são dedicados à presença pastoral no mundo do trabalho (nn. 953-966) e à tentativa de entrever novas perspectivas de empenho apostólico: a sensibilização das classes elevadas para os menos favorecidos pela sorte, a formação cristã da juventude operária e rural, o contato com os «afastados», a colaboração com os leigos... (nn. 1025-1035).
14. Os anos Setenta
Em 1970 foi realizado em Roma o XV Capítulo Geral. Deu-se um grande espaço para o exame dos documentos do Capítulo especial, que se tornaram, como se viu, a nova legislação da congregação, embora ad experimentum. Este dedicou grande atenção problema das vocações, tendo presente a crise que começava a se fazer sentir. Recomendava-se aos promotores vocacionais de apresentar a especificidade do sacerdócio josefino,que não é somente um sacerdócio ministerial, mas também carismático, considerando que assume «os carismas evangélicos da vida comunitária, da castidade, da pobreza e obediência e da caridade apostólica para com os pobres na categoria dos jovens» (Recomendação n. 1).
Confirmava-se o empenho missionário no vicariato do Napo, mas se considerava desejável algum outro apostolado missionário, também em territórios não confiados à Congregação (n. 3): eram os primeiros passos rumo às futuras aberturas na África, novo campo de trabalho em meio aos pobres.
O problema do apostolado entre os pobres, e de uma vida efetivamente pobre, teria depois surgido melhor no XVI Capítulo Geral acontecido em Roma em 1976, que encorajava a continuar no esforço já em ato para um maior conhecimento do carisma de Murialdo (Recomendação n. 1),chamava a atenção sobre o problema da relação entre carisma da Congregação e carismas pessoais, em relação à busca de caminhos apostólicos novos (n. 2), convidava os confrades «a solidarizar-se, com o testemunho de sua vida, com os mais pobres e mais necessitados» e, antes ainda de colocar em pauta o assunto do apostolado entre os jovens pobres, pedia «uma volta corajosa à pobreza evangelicamente vivida, com a escolha de um estilo de vida pessoal e comunitário que se contenta do essencial» (n. 4).
Reafirmava depois a «finalidade específica da nossa Congregação para os jovens pobres, abandonados e para o mundo do trabalho», pedindo «uma permanente revisão das nossas obras, para que correspondam à expectativa do ambiente e às novas formas que assume hoje a pobreza dos jovens»; sugeria-se, além disso, que cada comunidade tivesse, entre outras, alguma atividade significativa em favor dos jovens pobres (n. 7).
Pela primeira vez um Capítulo geral sublinhava que os colaboradores leigos são «conosco [...] membros ativos de apostolado» e pedia a eles de ter um «conhecimento adequado das linhas que identificam a educação josefina (carisma)» (n. 8).
Nas «Linhas de programação», e precisamente no parágrafo dedicado ao apostolado josefino, se reafirmava «nas escolhas concretas o fim primário da nossa congregação: dedicar-se aos jovens pobres e abandonados e ao mundo do trabalho» e se insistia pedindo que em cada comunidade houvesse alguma atividade significativa que respondesse «às novas formas de pobreza em que se encontram os jovens de hoje (abandonados, drogados, órfãos, filhos de pais em dificuldade...)». Voltava depois o pedido de «qualificar espiritualmente e apostolicamente os leigos, nossos colaboradores».
15. Dos colégios às casas família
Entre as atividades que o Capítulo de 1976 tinha considerado «significativas», estavam emergindo naqueles anos as casas família. Sua pré-história tem as raízes no segundo pós-guerra, caracterizado, na Itália, por grandes necessidades sociais. O conflito tinha deixado muitos órfãos e a sucessiva emigração tinha desagregado ou ao menos arrancado do próprio ambiente muitas famílias. Milhares de meninos sozinhos ou com problemas familiares encontravam acolhida nos orfanatos e nos colégios dos religiosos e religiosas. A partir dos anos cinquenta começou, porém, a aparecer alguma resposta alternativa ao instituto: comunidades tipo familiar para 12-15 crianças, que foram se difundindo nos anos Sessenta e Setenta, tornado-se com o tempo mais pequenas e mais semelhantes à família. Algumas tinham uma matriz leiga, outras de inspiração cristã. No lugar dos colégios estavam nascendo as casas família.
No segundo grupo, aquele de inspiração cristã, se colocava também a Associação Murialdo de Pádua. Era uma associação de voluntariado, formada por religiosos josefinos e leigos os quais se dedicavam em acolher meninos e jovens em estado de abandono e sem ligações familiares estáveis: os meninos eram e são acolhidos pelas mesmas famílias, em suas casas, ou por religiosos ao lado ou de qualquer modo dentro de suas comunidades, ou em casas alugadas.Esta forma de acolhida de tipo familiar tinha surgido em 1972, graças à colaboração entre a administração provincial de Pádua e a iniciativa privada, neste caso os Josefinos de Murialdo.
Pouco por vez os institutos assistenciais eram questionados, na intenção de promover outras formas de assistência. Surgiram, por isso, várias pequenas comunidades de acolhida, administradas diretamente por religiosos, com a colaboração de operadores e voluntários. Por vezes os mesmos religiosos partilhavam e partilham a vida com pequenos grupos de meninos e adolescentes. Em tais casos se formavam comunidades profissionais, em apartamentos com 4-6 menores e com operadores presentes em turno, de acordo com os horários de trabalho.
Este caminho interessou várias congregações e naturalmente também os Josefinos, que, aliás, se tinham demonstrado atentos e propositivos desde o início deste movimento, graças a alguns confrades e leigos que trabalhavam com eles. A Associação Murialdo de Pádua tinha começado muitos núcleos, situados em vários apartamentos. Em Trento nasceu a a Comunidade Murialdo (1979), com diversas «filiais» de casas família e de centros diurnos. Outras casas família nasceram em seguia: em 1980 em Acquedolci; em 1984 em Foggia, em Laives, Milão, Santa Marinella, Viterbo; em 1985 em Mendoza (Argentina) e em Roma; em 1986 em Venezia; em 1987 em Vicenza; em 1991 em Getafe (Espanha), em Rosario de la Frontera (Argentina) e em Lucera; em 1992 ema Bogotà. No decorrer dos anos noventa surgiram outras em Buenos Aires, Treviso, Brasília e também em outros lugares e em 1998 se constituía oficialmente o CNAM, (Coordinamento Nazionale Accoglienza Murialdo), com a finalidade de «federalizar» as comunidades, as associações, as organizações de voluntariado e as cooperativas que na Itália trabalham neste campo.
16. Nunca tão grande atenção aos pobres (1982)
A redescoberta progressiva do carisma do fundador fazia crescer na congregação a sensibilidade para o apostolado em favor dos jovens pobres, tema que no XVII Capítulo (Viterbo, 1982) assumiu um destaque nunca verificado antes. Enquanto se preparava o evento, o superior geral, Pe. Jerônimo Zanconato, escrevia uma carta circular aos confrades eleitos para o Capítulo (10 de janeiro de 1982), na qual sublinhava, entre outras coisas, a necessidade da «requalificação» das obras josefinas, a fim de que fossem realmente para os jovens pobres.
Contudo a diminuição numérica, em 1979 a congregação, graças à Província vêneta, abria em Lunsar, na Serra Leoa, uma presença pastoral e educativa no coração de um dos países mais pobres da África.
O Capítulo convidava as comunidades a ficar atentas «às necessidades sempre novas e aos “sinais dos tempos”, advertindo os confrades para que evitassem o perigo de uma vida burguesa, afastada da precariedade que caracteriza muitas formas de pobreza (Linhas de programação, 1.2). Um inteiro, um longo parágrafo foi dedicado ao apostolado entre os jovens pobres.
O Capítulo recuperava o espírito da congregação, o da educação dos jovens pobres, abandonados e mais necessitados de ajuda e de educação cristã. Em seguida traçava um verdadeiro e próprio programa de «reconversão» aos jovens pobres.
«Cada província, por meio de intervenções adequadas do capítulo provincial, do conselho e da comunidade, se esforce para fazer com que gradualmente no prazo de três anos e ao menos antes do término do sexênio se possa reconhecer muito mais do que hoje que a congregação é fiel a esta missão específica, com uma linha apostólica clara e uma prioridade evidente de empenho nesta opção.
[...] Para ajudar a realização de tal projeto, o Capítulo:
a) pede que cada uma de nossas obras sinta o dever de procurar espaços de serviço para os nossos jovens pobres (casas família, em apartamento ou no instituto, entrega ou apoio de jovens a famílias, alimentação, acolhida em casos de emergência e outras formas de presença aberta no território, também com a contribuição de colaboradores;
b) convida a sensibilizar os jovens de todas as nossas obras e atividades ao serviço de seus companheiros mais humildes e necessitados e fazer trabalho semelhante para com os colaboradores leigos, os voluntários, os ex-alunos, os adultos de todas as nossas obras e paróquias.
Afirma que a nossa congregação não se dedica especificamente à faixas de marginalização qualificada (drogados, deficientes,encarcerados...) mas antes à marginalização de massa (periferias, bairros populares, assistência aos menores)» (Linhas de programação, 2.1).
A escolha do envolvimento dos jovens, dos colaboradores, dos leigos, dos voluntários no campo do trabalho em meio aos pobres era proposta a propósito das iniciativas missionárias já existentes ou em vias de projetação (2.2).
17. ARegra de 1984
Compreende as Constituições e Capítulo especial de 1969. Com razão o superior geral, Pe.Paulo Mietto, na carta de promulgação escrevia que se tratava de uma «volta às fontes», isto é, ao Evangelho e ao carisma do fundador, como também de uma «adaptação às novas condições dos tempos» (A Regra. Constituições-Diretório, Roma 1984, p. VIII). Tal Regra tem um valor muito especial enquanto apresenta o específico projeto de vida do Josefino enriquecido com a nova linfa carismática que agora vinha mais abundante das raízes da velha árvore; é, portanto, de notável interesse reler os passos que tratam do apostolado em favor dos jovens pobres.
A Regra de 1984 contém um texto que é uma premissa; intitula-se: Origem e carisma da congregação. Não faz parte das Constituições, mas faz uma bela «síntese histórico-carismática da tradição josefina» e constitui, portanto, um «ponto de referência para toda a legislação da congregação» (Giuseppe Fossati, Una storia per la vita..., I, p. 98).
Na Regra depois, o capítulo dedicado à vida apostólica iniciava afirmando que «desde as origens, a congregação de São José teve na Igreja a missão específica de dedicar-se aos jovens pobres, abandonados e mais necessitados de ajuda e de educação cristã » (art. 45).
Definidos os destinatários, se definiam os âmbitos: «Mantendo sempre a prioridade do empenho para os jovens, finalidade específica da congregação, esta pode desenvolver seu apostolado também entre os operários, os adultos da classe popular e os povos ainda não evangelizados, seguindo as indicações da Providência. A Congregação promove a elevação da classe operária, sobretudo, pela formação dos jovens que se inserem no mundo do trabalho. » (art. 46).
«Atenta aos sinais dos tempos e adequando-se às circunstâncias de pessoas e lugares, a congregação oferece, nas suas instituições e através de suas atividades, uma casa e uma família aos jovens que não a têm, possibilidade de estudo e de formação para o trabalho, um ambiente educativo e sobretudo um centro de evangelização e de vida cristã» (art. 47).
O texto continuava abordando os temas da formação integral, humana e cristã, do estilo comunitário no apostolado, do contato direto com os jovens, entre os quais o Josefino se encontra como «amigo, irmão e pai», da catequese, da colaboração com os leigos.
Pouco tempo depois, exatamente os leigos, para contar apenas um exemplo, eram convidados a partilhar o carisma apostólico a serviço dos meninos pobres e sozinhos, pelo Pe. Paulo Mietto, superior geral, em sua carta circular com o título comprometedor Na paróquia josefina nenhum menino sem família. O Pe. Mietto desejava que surgisse nas paróquias josefinas «um pequeno grupo de leigos, melhor se fossem famílias, com a finalidade de representar um ponto de referência seja para as famílias disponíveis para ajudar crianças e meninos em dificuldade.
[...] A comunidade paroquial [...] pode e deve encarregar-se da situação de marginalização dos meninos e dos jovens do território, desenvolvendo uma mentalidade de partilha para viver numa síntese vital a escuta da Palavra de Deus, a celebração da Eucaristia e o testemunho da caridade.
[...] E’ talvez um sonho por demais bonito pensar na paróquia josefina como um terreno privilegiado onde as famílias se ajudam mutuamente para socorrer os meninos em dificuldade?» (Paolo Mietto, Nella parrocchia giuseppina nessun ragazzo senza famiglia, in «Lettere Giuseppine» [1984], n. 5, pp. 136-137).
A carta nascia no contexto de um caminho já começado há tempo (aquele da assistência aos meninos em dificuldade no seio de estruturas familiares) e contribuìu esta mesma para um significativo desenvolvimento da acolhida através das casas família.
18. Uma constante do século XX: as paróquias
A aceitação de uma paróquia, a primeira, por parte da Congregação, era apresentada aos Josefinos pelo superior geral de então, Pe. Júlio Costantino, na sua carta circular de 10 de fevereiro de 1909. Ele escrevia: «Vós já sabeis, caríssimos confrades, que a benevolência do Santo Padre [Pio X] quis confiar-nos em Roma a nova paróquia da Imaculada no Borgo S. Lorenzo [...] e as Escolas Pontifícias daquele bairro e Oratório ou Patronato daqueles pobres meninos. Cada uma destas obras seriam certamente suficientes para esgotar as forças, o que será ter que levá-las a cabo todas ao mesmo tempo?». O Pe. Costantino continuava sublinhando que não tinha sido a congregação a pedir, mas o Papa havia oferecido o novo campo de trabalho, uma obra «de grande relevância», «a maior que a nossa pequena Sociedade até agora assume» (Giulio Costantino, Lettere circolari..., pp. 105-106).
Com efeito as primeiras regras da congregação não mencionavam as paróquias entre os âmbitos apostólicos nos quais se explicitava a ação dos Josefinos; sobre este ponto calavam os textos de 1873, 1875 e 1904. Mas, sabe-se, a vida vivida precede o direito e, portanto, as paróquias entraram antes na vida da congregação (1909) e depois nos seus estatutos: com efeito nas Constituições de 1923 se lê que a congregação exercia sua ação nos colégios, nas escolas, nos orfanatos, nos oratórios [...] «e por vezes também nas paróquias, que devem ter anexa uma obra para a educação da juventude» (art. 3). E’ a linha, não só prática, mas também teórica, que sempre se tentou seguir depois: ação aos jovens.
A segunda paróquia josefina foi aquela de Montecompatri, administrada de 1912 a 1922. Seguiram-se outras no Brasil em 1915 (Jaguarão e Quinta), no Equador em 1922 (Tena) e assim por diante em outras localidades. Talvez seja bom lembrar algumas, sem querer cometer injustiças àquelas que por falta de espaço e tempo não são elencadas: Conegliano (1924); Nápoles e Turim (1927), Ana Rech (Brasil, 1928), Foggia e Veneza (1931), Lucera (1932), Buenos Aires (1936), Viterbo (S. Maria delle Farine, 1936), Quito (Equador, 1937), Mendoza (Argentina, 1940), Milão (1940), Fazenda Sousa (Brasil, 1947), La Reina (Chile, 1948), Requinoa (Chile, 1949), Valparaiso (Chile, 1951), Rossano Calabro (1953), Padua (1954), Porto Alegre (Brasil, 1954), Guayaquil (Equador, 1956) e subindo até Brasilia (1968), Viterbo (S. L. Murialdo, 1972), Taranto (1979), Bogotá (1983), Rio de Janeiro (1983), Madrid (1987), Londrina (Brasil, 1989). Na década de noventa foram abertas ainda três paróquias no México, três no Brasil, uma no Equador e uma na Argentina. Foram aceitas uma paróquia em Modena (2001), uma em Medellin (Colômbia, 2002) e uma na Espanha em 2007. Muitas paróquias se encontram na missão josefina do Napo (Equador), duas na Guiné Bissau e duas nos Estados Unidos da América.
Como se vê, a aceitação das paróquias é uma constante do século XX e parece que se mantenha neste novo século: às vezes, para satisfazer os pedidos dos Bispos, outras vezes para ter um campo de apostolado em alguma região ou nação, outras vezes ainda para seguir o «gênio» pastoral dos confrades. Em sempre é fácil, numa paróquia, manter a atenção especial para os jovens, especialmente pobres e abandonados, para as camadas populares e para o mundo do trabalho.. Por vezes os superiores encaminharam boas reflexões em tal sentido. Assim fizeram o Pe. Paulo Mietto em 1984, com a já citada carta aos confrades ocupados em paróquia (Na paróquia josefina nenhum menino sem família). E de resto, para delinear as prioridades da pastoral josefina permanece como ponto de referência o fato de que as paróquias da congregação, por quanto possível, «devem estar situadas em bairros populares de modo a oferecer um campo propício para servir à juventude mais carente» (Origem e carisma, n. XX).
19. Centros diurnos e centros abertos
Na atividade educativa dos Josefinos e dos leigos que partilham seu apostolado, a década de oitenta do século passado foram caracterizados pelo surgimento de diversas casas família. O fenômeno foi se solidificando e também se redimensionando na década de noventa que viu surgir de preferência a difusão de novas modalidades de atuação: os centros diurnos e os centros abertos.
A bem da verdade, iniciativas desse tipo tinham surgido também antes, embora com nomes diferentes, e afundavam suas raízes nos antigos “reforço escolar” que acompanhavam os meninos nas atividades vespertinas para «fazer as tarefas de aula» para o dia seguinte. Penso, por exemplo, em Caxias do Sul, no Brasil, onde uma obra classificável com o título atual de centro diurno surgira no fim dos anos setenta. Ainda hoje este centro, como vários outros no Brasil, acolhe meninos de manhã à tarde, oferecendo-lhes reforço escolar, atividades formativas e recreativas, refeições, serviços médicos e psicológicos («Lettere Giuseppine», [1997], n. 1, p. 23).
Uma atividade deste tipo seria classificada na Itália, com o nome de centro diurno, enquanto o centro aberto assume modalidades mais flexíveis, no sentido que vai ao encontro dos meninos que, embora necessitados de acompanhamento em certas horas do dia, tem, todavia, outros pontos de referência mais ou menos estáveis e eficazes, como a escola família.
Não só no Brasil, mas em tantas outras nações, os Josefinos se tornaram promotores de iniciativas semelhantes nestes últimos anos: 1987 (Madrid); 1988 (Araranguá, Brasil); 1991 (Viterbo); 1993 (San Giuseppe Vesuviano); 1994 (Azuqueca de Henares, Spagna); 1995 (Rosario de la Frontera, Argentina); 1996 (Ana Rech, Brasil; Quito, Equador); 1997 (Sigüenza, Espanha; Turim Artigianelli; Milano); 1998 (Aguascalientes, Mexico; Nápoles; Turim, paróquia della Salute); 1999 (Belém e Porto Alegre no Brasil; Foggia; Getafe, na Espanha; Vicenza); 2000 (Cefalù, Pádua, Requínoa e Valparaiso no Chile); 2003 (Cidade do México); 2004 (Hermosillo, no México; Rossano Calabro); 2005 (Ibotirama, no Brasil; Buenos Aires); 2007 (Roman, na Romênia).
Na América do Sul muitos destes centros se preocupam também na preparação para o trabalho. Interessante é a experiência denominada «Su cambio por el cambio»(em português: Seu troco para trocar), em Quito, capital do Equador. O nome significa uma iniciativa muito popular: convida-se o povo a dar o «troco» (cambio) das compras para ajudar «trocar (cambiar)» a sociedade prevenindo o problema dos meninos de rua. O dinheiro recolhido serve para financiar iniciativas esportivas, educativas, de recuperação escolar e de preparação para o trabalho.
Na Itália os centros diurnos acompanham os meninos enviados pelo serviço social que supervisiona e financia o projeto, enquanto nos centros abertos os serviços sociais não estão presentes com atividades personalizadas, embora subvencionando em certos casos o conjunto das atividades. Em geral se parte do reforço escolar, o mais possível individualizado (um adulto para dois ou três meninos), para chegar depois a tomar conta dos outros problemas que impedem o crescimento normal educativo dos menores. Além da ajuda nos deveres escolares e nas lições (com todo o corolário do diálogo com os professores), oferecem-se momentos de animação, de jogo, de laboratório, de formação espiritual. Quase sempre os centros diurnos oferecem também o almoço. Outras vezes, mas trata-se de casos mais raros, os centros diurnos tem só um horário vespertino, todavia, sempre com meninos selecionados pelo serviço social. Em 2008 na Itália a congregação sustentava 12 centros diurnos que atendiam aproximadamente 230 menores e 8 centros abertos que envolviam 320 meninos e meninas.
20. Novo fervor missionário
Até os anos 60, a congregação tinha entrado em sete nações, além da Itália. As presenças no exterior, não muito diversificadas, eram, porém, caracterizadas pela tentativa de implantar várias comunidades nas nações em que se trabalhava e eram acompanhadas contemporaneamente pela consciência de ter que sustentar principalmente a missão do Napo.
Pode-se dizer que a partir do fim dos anos setenta mudou a estratégia da congregação: começou-se por dar mais ênfase à diversificação das presenças, para corresponder ao desejo de missionariedade expresso por muitos confrades e por numerosos leigos que gravitavam ao redor dos Josefinos, e também par encontrar novos centros vocacionais em outras nações. As «aberturas» da década de oitenta e noventa são o sinal de um novo dinamismo que não partia só do governo central da congregação, mas também e antes ainda das realidades periféricas, isto é, das províncias.
Eis então os Josefinos do Vêneto que partem para a Serra Leoa (1979), como já se disse, e os da província piemontesa para a Guiné Bissau (1984). Nesse tempo a Província equatoriana tinha procurado uma expansão própria em Bogotá, na Colômbia (1983).
O XVIII Capítulo Geral (Viterbo, 1988), embora tratando de vários temas, registrava e sustentava também este novo elã missionário.
Naquele Capítulo emergia vistosamente o tema da «comunhão com os leigos, participantes da única missão». Era uma mudança de perspectiva: de colaboradores, os leigos se tornavam participantes da missão apostólica dos Josefinos (Deliberações, 2).
E’ claro que o conceito de «colaborador» permanecia ainda, mas, sob a palavra, se estava formando uma nova visão. Afirmava-se que a vocação josefina, isto é, o carisma, oferecia aos leigos «uma tensão profética, seja pessoal como comunitária, para os últimos tempos [e] um carisma espiritual e apostólico, [junto] a uma tradição educativa consolidada» (2.2). A presença dos leigos era considerada um «elemento estimulante» para as comunidades e «constitutivo» para as obras (2.3), enquanto se pedia que se propagasse «o estilo da participação na elaboração, na gestão, na avaliação dos projetos apostólicos» (2.3).
O Capítulo se preocupava em assegurar aos leigos «itinerários formativos ao redor dos temas do carisma josefino, da espiritualidade dos leigos e daqueles tipicamente leigos, como compromisso social e político, vida familiar, mundo do trabalho e da educação etc.». Falava-se de eventuais formas de consagração laical e de assumir responsabilidades «na condução de atividades, especialmente educativas e de assistência», no quadro de uma «nova e difusa vocacionalidade» (2.4). A consequência era que também os confrades se formassem para um relacionamento e colaboração dos leigos (2.5).
Os Josefinos, descritos como «apóstolos entre os jovens especialmente pobres» (3), eram convidados, comunitariamente, «a entrar nos lugares onde se reúnem os jovens, preocupando-se sempre mais das suas realidades de risco» e a sensibilizar os jovens «a formas de voluntariado, de cooperação, de serviço civil e de objeção de consciência contra as orientações anti-evangélicas das leis e da sociedade» (3.2.1).
O compromisso, para o sexênio, era o de renovar «a opção prioritária em favor dos jovens pobres e abandonados», com uma nova força, aquela da interação com as outras forças pastorais, educativas e sociais atuantes na região, indo além do puro assistencialismo e colocando-se «na escuta das formas sempre novas de pobreza [...:] meninos de rua, de periferia, de bairros populares, [...] ou de fenômenos como a imigração, a inadequação das estruturas escolares, a crise da família, a cultura da droga e das gangues de jovens.» (3.4).
Reafirmava-se, enfim, a importância de uma nossa presença «atenta, corajosa e culturalmente aprofundada no mundo do trabalho» (3.5) e se convidava para uma maior sensibilidade em relação aos problemas do terceiro e quarto mundo (3.7).
21. Pobres materialmente, socialmente e moralmente
A resposta do carisma de Murialdo, efetuada a partir da década de sessenta que culminou com a proclamação da sua santidade em 1970 e ainda a redação da Regra de 1984, tinha dado origem a um certo debate sobre as obras apostólicas mantidas pela congregação e sobre os critérios a serem seguidos ao se abrirem novas. O tema foi enfrentado também em várias reuniões do Centro Histórico dos Josefinos de Murialdo, que fora constituído entre 1982 e 1983. Dele saiu um documento intitulado Carisma apostólico confiado à Congregação que contribuiu a clarear a questão e a orientar o caminho sucessivo.
«Aparece claramente desde os primeiros documentos da congregação [...] que nosso campo de apostolado, antes exclusivo, depois principal e preferencial, é a educação dos jovens pobres, abandonados, ou necessitados de correção.
Também nos comentários do Pe. Reffo e de Murialdo mesmo, os que se referem ao nosso apostolado são sempre principalmente:
- os jovens pobres e abandonados, isto é, pobres materialmente e socialmente, ou
-os jovens necessitados de ajuda e de educação cristã (para prevenir) ou necessitados de correção (para recuperar), isto é, os jovens pobres moralmente: aqueles que, independentemente da condição social ou familiar, são, de acordo com a terminologia do tempo, já travessos (discoli) ou em perigo de sê-lo». ([Centro Storico Giuseppini del Murialdo], Carisma apostólico confiado à Congregação, em «Lettere Giuseppine» [1993], n. 7, p. 170).
No centro, afinal, havia os jovens, sobretudo, se pobres e abandonados. Isto iria reafirmar o XIX Capítulo Geral, realizado em Viterbo em 1994. As idéias básicas foram as do «renascimento», numa vida rica de transcendência e sinceramente fraterna, aquela da Família de Murialdo, aquela do «jovem centro».
A congregação descobria a beleza da partilha do carisma espiritual e apostólico «com outros irmãos e irmãs» (as Murialdinas, o Instituto secular, os Leigos de Murialdo, os colaboradores, os próprios jovens...), isto é, com aquele conjunto mais vasto que o mesmo Capítulo definia como «Família de Murialdo» (3; 3.2; 3.3.3). Os leigos não eram somente os «destinatários da nossa pastoral» (3.1), mas se tronavam responsáveis também eles da guarda, da transmissão e da encarnação do carisma. A vocação cristã se vive de modos diversos, mas com um elo que «nos constitui em Família de Murialdo» com todos aqueles que receberam, junto conosco, o dom dado por Deus ao nosso fundador». Exatamente por isso os capitulares afirmavam a convicção de que tinham muito a receber também dos leigos (3.2 e 3.3.1).
Encaminhava-se o discurso de «formação mútua dos leigos e dos confrades chamados a colaborar com eles» (3.3.2).
Afirmava-se também que «através dos Leigos de Murialdo [...] os carisma do fundador pode encontrar aspectos ainda não desenvolvidos adequadamente (presença no social, no político, nos meios de comunicação, na cooperação) e descobrir novos campos de presença» (3.3.3).
A outra idéia básica era aquela do «jovem no centro». O Capítulo reconhecia que a identidade josefina «se expressa necessariamente na dimensão apostólica, e precisamente na dedicação aos jovens pobres, abandonados e mais necessitados de ajuda e de educação cristã. Reafirmando, portanto, escreviam os capitulares, a centralidade do jovem, especialmente pobre, no nosso empenho apostólico pessoal e comunitário» (4.2.1). Insistia-se além do mais que não se tratava somente de um empenho de caráter sócio-existencial, mas de um apostolado em prol da salvação dos jovens (ne perdantur). Seguia-se depois uma longa lista de escolhas e compromissos, exatamente para «repor os jovens no centro de nossa missão» (4.2.2 e 4.2.3).
A centralidade do jovem aparecia também entre as escolhas metodológicas evidenciadas dois anos depois pelo documento elaborado pelo Grupo Central de Pastoral Josefina e intitulado Linhas de pastoral josefina (1996).
22. Abertura a novas nações e participação do carisma
O XX Capítulo Geral (Turim, 2000) era celebrado no contexto do Jubileu da Redenção e no centenário da morte de São Leonardo Murialdo. Nos anos que o precederam (entre 1997 e 1999), as comunidades josefinas da Serra Leoa tinham participado dos horrores da guerra, a destruição das obras e a arriscada prisão de vários confrades, enquanto também a Guiné Bissau era ensangüentada por violentos e prolongados combates entre rebeldes e tropas do governo. Não obstante estas provas, e por vezes por causa delas, a congregação tinha continuado a abertura a outras: México (1990), Albânia (1994), Índia e Romênia (1998), Gana (1999). O carisma de Murialdo alcançava novos horizontes e interagia com sempre novas populações e novas culturas. Ao mesmo tempo se desenvolvia o ENGIM-ONG para sustentar os projetos de ajuda aos países em via de desenvolvimento, sobretudo, aqueles em que está presente a congregação.
O tema do XX Capítulo (Em comunhão com Cristo e com os irmãos pelos caminho do Evangelho ao encontro dos jovens do mundo com Cristo e com os irmãos pelos caminhos do Evangelho ao encontro dos jovens do mundo) estava centralizado na espiritualidade da relação.
O Capítulo reconhecia que na congregação estava se tornando importante «o tema da Família de Murialdo, como nova realidade em que se alarga e se enriquece o carisma espiritual e apostólico do fundador» (48). Os Josefinos passavam «da pretensão de ser os únicos depositários do carisma à convicção de que a sua riqueza se expressa hoje sempre mais plenamente na Família de Murialdo» e «de um carisma entendido só no interior da vida consagrada à acolhida da sua expressão também em situações de secularidade», com a disponibilidade a caminhos de formação recíproca entre religiosos e leigos. De «executores», os leigos se tornavam «companheiros di viagem plenamente responsáveis conosco da missão» (52-55).
O Capítulo, embora reconhecendo que em algumas realidades de congregação havia ainda escassa atenção aos jovens pobres, constatava que na maioria dos casos tinha madurecido a sensibilidade e tinha crescido o empenho (63).
Acerca dos jovens, se afirmava a vocação a ser «educadores do coração», com atitude de benevolência e confiança (70), procurando passar de uma relação centrada no papel a uma partilha de vida, no estilo da companhia e da vizinhança humana e espiritual (72).
Notava-se, enfim, o crescimento para a sensibilidade missionária e se pedia à congregação de realizar intervenções apostólicas «lá onde vivem os jovens pobres» (78; 83) e de se colocar em atitude de «escuta do grito dos pobres, dos marginalizados e dos excluídos» (88), encaminhando «em favor dos últimos iniciativas-sinal que tivessem caráter exemplar e fossem facilmente reproduzíveis» (95).
23. Um sonho partilhado
As principais atenções dos últimos Capítulos Gerais (a espiritualidade, os jovens pobres, a vida fraterna, a partilha do carisma, a capacidade de relações humanas calorosas, a abertura aos tempos e ao território) encontravam sua síntese no «sonho» do XXI Capítulo Geral, aquele realizado em Fazenda Souza em 2006, o primeiro a ter lugar fora da Itália: «Com os olhos fixos em Jesus e nos jovens pobres, caminhamos alegres como irmãos numa comunhão de vocações, rica de misericórdia e de ternura, aberta profeticamente aos desafios territoriais e culturais».
O Capítulo, com tons inspirados um pouco misticamente, afirmava: «viver a compaixão de Deus pelo homem quer dizer a nossa profecia no mundo de hoje. [...] O olhar de Deus amor sobre nós, como fruto do encontro íntimo com ele, gera a alegria de nos sentir amados sempre e em cada circunstância. Uma espiritualidade alegre produz [...] a capacidade de ver e valorizar o belo em tudo e em cada pessoa, ouvindo e levando a Deus o grito do jovem pobre» (1.1.1).
A espiritualidade, vivida como estilo evangélico de vida, se manifesta também nas relações fraternas e na opção concreta pelos jovens pobres, a fim de que não se percam (ne perdantur) (1.2.2).
Valorizava-se, portanto, a linha de uma espiritualidade que entra na vida e na ação apostólica: «a nossa espiritualidade nos chama a encarnar o hoje evangélico de Cristo com os olhos e coração fixos sobre os jovens pobres, convidados a dar novas respostas e retomando como próprio o desafio educativo com e para os mesmos jovens » (1.2.4).
Tudo isto conjugado a uma maior e mais visível pobreza, num estilo de vida sóbrio e laborioso (1.2.5).
Da espiritualidade à vida e da vida à espiritualidade: «somos chamados a ouvir com sempre maior atenção as vozes dos jovens mais pobres, sabendo que, nos colocando a seu serviço, poderemos, juntos, descobrir o rosto de Deus » (2.1).
Com os olhos fixos em toda a Congregação em todas as suas latitudes, os capitulares afirmavam: «com alegria constatamos que estão sendo realizadas experiências muito enriquecedoras, onde a mesma comunidade/obra vive a ação pastoral com uma disponibilidade a se repensar além da obra, a colocar em primeiro plano os últimos, a trabalhar em rede e em relação com o território, a discernir as novas fronteiras da evangelização, a enfrentar os desafios das outras religiões, da interculturalidade e da globalização de onde provém as instâncias de renovação. Reconhecemos a experiência de tantos confrades e leigos que estão comprometidos em descobrir, conhecer e acolher os jovens mais pobres e necessitados de seu território » (2.2.1).
Voltava, no texto do Capítulo, uma idéia já expressa nos tempos de Murialdo: «Onde, por diversos motivos as nossas obras] não são “habitadas” provavelmente pelos jovens pobres, nos orientamos para a abertura de espaços, o amadurecimento de caminhos, de itinerários e experiências para um serviço solidário com os pobres. Neste sentido também o fenômeno dos migrantes revela-se como uma muito forte possibilidade de serviço carismático que não devemos nos » (2.2.3).
Encorajava-se depois o compromisso dos confrades e dos leigos nos territórios de missão, junto com a «abertura de novas frentes de evangelização e promoção humana em países pobres do mundo e nas periferias dos grandes centros urbanos» (2.2.4).
Naturalmente estas reflexões eram acompanhadas por outra temáticas, como aquelas da formação contínua, a comunhão de vocações na Família de Murialdo, a abertura aos desafios do território e da cultura...
O caminho percorrido, as sugestões amadurecidas e a realidade que daí surgiu (como a da Família de Murialdo) confluíram enfim no novo texto da Regra (2007), que na substância carismática retomava aquela de 1984, mas acolhia as modificações trazidas pelos Capítulos Gerais de 1994 e 2000, junto com aquelas derivadas da atenta revisão que lhe seguiu, aprovada pelo Capítulo de 2006.
24. As Murialdinas de São José
O Pe Luiz Casaril, fundador da congregação das Irmãs Murialdinas de São José, por ocasião da aprovação pontifícia (1973), escreve estas palavras que ficaram sempre, e para todas as co-irmãs, como o ideal inspirador do apostolado: «A vossa congregação nasceu entre os pobres e para os pobres, desenvolveu-se entre eles e para eles, por isso a Divina Providência vos abençoou, aprovou, louvou. Ficai fiéis a este espírito no qual reside a vossa força, a vossa glória, o vosso futuro. A exemplo de Murialdo, gloriai-vos de servir os pobres».
Neste relato queremos dar uma visão panorâmica de como a congregação se manteve fiel a esta exortação, por isso daremos uma visão da realidade, através do tempo e nas nações em que estamos presentes.
24.1 Itália
A fundação foi precedida por cinco anos de experiência (1948-1953) em que as primeiras coirmãs viviam na comunidade de Turim (Via Villar, n. 16) acolhendo umas 300 criança e meninas pobres para atividades pós-escolares e atividades de oratório e à noite as jovens operárias que, no tempo livre do trabalho na fábrica, queriam aprender a costurar, bordar, ou exercitar-se na datilografia.
A juventude então era muito numerosa e as primeiras Murialdinas tinham formado a Associação do «Patrocínio de São José» com a finalidade de dar formação humana e cristã ás jovens pobres e necessitadas.
Na primeira edição das Constituições (em 1953), como também na segunda edição (em 1964), no capítulo I: «Natureza da Congregação» se lê: «O fim especial da congregação das Irmãs Murialdinas de São José é a educação cristã das meninas e das jovens, especialmente se pobres e necessitadas de correção, e a entrada na família para a conservar ou para reconduzi-la à submissão a Deus e à Igreja e à virtudes cristãs em todas as manifestações sociais, morais, de piedade e de caridade» (art. 2).
As Constituições especificam as modalidades para conseguir este «fim especial» através de: creches, escolas elementares, escolas profissionais, colégios, orfanatos, reformatórios, oratórios, patronatos, paróquias e missões.
Depois da fundação oficial em Rívoli (Turim) no dia 22 de setembro de 1953, as Murialdinas continuaram a se ocupar da juventude pobre e das famílias através da creche (Borgo Sabotino, Bronzola, Vattaro, Foggia), orfanatos (Ottaviano, Montecchio Maggiore), pastoral paroquial (sobretudo catequesee atividades de oratório) com especial atenção à juventude e às famílias (Rívoli, Mirano, San Giuseppe Vesuviano, Vattaro, Ottaviano, Montecchio Maggiore, Veneza, Foggia, Roma, Torino).
A Regra de Vida, renovada após o Concílio Vaticano II (Capítulo Geral especial de 1969), foi aprovada definitivamente pela Santa Sé em 1982 e atualizada em 2005 com as mudanças trazidas ao longo dos anos pelos vários Capítulos Gerais.
Reproduzamos alguns capítulos da Regra de Vida atual:
«Fiéis ao carisma que o Senhor deu à congregação, nós, Murialdinas testemunhamos diante dos homens a predileção de Cristo pelos meninos e os pobrese, fazendo nossa a solicitude da Igreja, consagramos o nosso empenho pastoral e o nosso serviço à juventude e às famílias, especialmente mais pobres».
«Em nossa missão de educadoras a favor da infância e da juventude, nós murialdinas nos empenhamos em promover a formação intelectual, profissional, social e cristã que leva à maturidade da personalidade a fim de que os jovens possam enfrentar com responsabilidade seu futuro».
Em nossa Regra de Vida, de acordo com o estilo de Murialdo, encontramos a escolha preferencial pelos pobres que supõe uma atitude espiritual e evangélica de partilha e de acolhida.
O Pe. Luiz Casaril, em seus escritos, nos convida continuamente a ficar «atentas aos sinais dos tempos»para expressar no hoje o carisma de Murialdo. Por isso «nossa congregação, com o testemunho de cada uma de nós, se propõe apresentar cada dia Cristo que acolhe e abençoa as crianças, anuncia o reino aos pobres, faz o bem a todos. [...] [Ela] dedica sua ação apostólica em particular à juventude e às famílias mais necessitadas de ser amadas e evangelizadas ».
A finalidade da educação, em Murialdo, é a salvação (ne perdantur) porque o encontro com Deus dá pleno sentido à vida do homem. Toda a sua atividade é imbuída pela preocupação religiosa, mas ao mesmo tempo, Murialdo se preocupa de toda a vida dos meninos (necessidade de pão, de jogo, de trabalho, de relações afetivas significativas, de instrução). Ele fala aos meninos do amor de Deus e faz com que façam a experiência acolhendo-os e amando-os.
A insistência de Murialdo para uma bem unida família nos faz compreender que a ação educativa é um fato de comunidade, que o tipo de relações que se praticam tem grande importância educativa e que é necessário conviver com os as crianças, adolescentes e jovens, com amizade, cordialidade, doçura, como «amigas, irmãs e mães».
Somos chamadas a criar uma relação de confiança e corresponsabilidade, acreditando nas crianças, adolescentes e jovens a nós confiados, também nos mais difíceis, sabendo ver o potencial positivo que há em cada um, porque são «sujeito» de educação e protagonistas do próprio crescimento.
Murialdo nos ensina a colaborar com os leigos e a Regra de Vida nos recorda que podemos realizar o apostolado «em obras próprias ou inserindo-nos em organismos já existentes».
Como para Murialdo a experiência do encontro com Cristo orientou a sua vida para os jovens pobres dando-lhes a capacidade de reconhecê-lo no rosto de cada um, assim para nós o trabalho apostólico é escola de santificação.
O elo inscindível entre fé e atenção para as exigências da pessoa no campo educativo e formativo se torna atenção amorosa para os meninos, jovens e famílias pobres, e leva a considerar sempre possível um crescimento humano e cristão, para uma vida vivida em plenitude. Como Murialdinas, somos também chamadas a ter uma atenção privilegiada para quem é mais pobre, quem é menos dotado, quem está em dificuldade, para que esses possam percorrer o caminho que os leva ao encontro com Cristo.
O Papa João Paulo II, na exortação apostólica Vita Consecrata, afirma que «as mulheres consagradas são chamadas de um modo todo especial a ser, através de sua dedicação vivida em plenitude e com alegria, um sinal da ternura de Deus para com o gênero humano e um testemunho particular no mistério da Igreja eu é virgem, esposa e mãe »; sentimo-nos, por isso, chamadas, consagradas e enviadas por Deus a uma missão particular na Igreja.
Conscientes e agradecidas a Deus por este dom, nós Murialdinas expressamos nossa identidade na dimensão apostólica, que para nós se torna autêntica estrada de santificação, e, «Senhor deu à congregação», dedicamos nossa vida à «educação e salvação da juventude, especialmente pobre e necessitada de ser amada e evangelizada, e ao apostolado nas famílias».
Reafirmamos, portanto, o nosso compromisso apostólico cientes de que somos chamadas a aprofundar a missão que nos foi confiada atuando-a com alegria e a fazer escolhas significativas, corajosas e proféticas, de acordo com o carisma.
24.2 Brasil
Fase inicial: de 1954 até 1970
Uma visão panorâmica da atividade apostólica das Murialdinas em seus inícios no Brasil torna visível a escolha preferencial para os pobres.
Fazenda Souza (zona rural do município de Caxias do Sul) caracteriza-se pela grande pobreza e as primeiras Murialdinas, ao iniciar a congregação no Brasil (ano 1954), abrem uma escola elementar «Santa Maria Goretti» para os filhos dos agricultores da região, com uma extrema pobreza de meios.
Algumas coirmãs são depois encarregadas a colaborar no serviço da cozinha, limpeza da casa e rouparia do orfanato «Abrigo de Menores» dos Josefinos na área urbana de Caxias do Sul. Daí, no próximo bairro Madureira, começam uma outra escola para os filhos dos operários, muito pobres.
O fenômeno urbano das favelas acentua-se mais na década de 70 e na cidade de Porto Alegre as coirmãs assumem duas importantes obras de promoção humana e cristã para crianças e meninos em situação de risco: o Centro de Promoção do Menor e a escola profissional no Bairro Cidade de Deus em colaboração com a Caritas Regional; o centro Infanto Juvenil Monteiro Lobato para meninas pobres na Vila Restinga.
Além disso as coirmãs abrem uma comunidade em Maringá, no Estado do Paraná, com uma obra assistencial (internato): Lar Escola da Criança.
Fase atual: a partir dos anos 80
Várias circunstâncias determinaram a transferência da escola Santa Maria Goretti para a cidade de Caxias do Sul, naquele que é hoje o populoso bairro Madureira. Abriu-se além disso um Centro Educativo Diurno para crianças e meninos em situação de risco no próximo Bairro «Primeiro de Maio».
Em 1978 nasce uma obra intercongregacional da qual as Murialdinas tem a direção: o Centro de Promoção do Menor de Santa Fé, em uma das favelas mais marginalizadas da cidade de Caxias do Sul. Ainda hoje esta obra oferece o serviço de Centro Educativo para mais de quinhentos entre meninos e meninas pobres e abandonados.
Na área metropolitana da capital (Porto Alegre), as coirmãs não trabalham mais no Centro Educativo da Caritas Regional da Cidade de Deus. Recentemente abriram um programa de bio-energética (tratamento de saúde) para a população pobre. Continua ao invés o Centro Educativo Monteiro Lobato na Vila Restinga com atendimento também da Vila Bita, um bairro pobre limítrofe.
Em Londrina (Paraná) as coirmãs colaboram com os Josefinos na EPESMEL, com um serviço de educação, cozinha e outros programas sociais.
Em Maringá, a obra continua com o Centro Educativo Lar Escola da Criança que obteve mais vezes o reconhecimento local e nacional pela qualidade do serviço prestado a cerca de 350 crianças e meninos marginalizados da região.
As coirmãs, além disso aceitaram um serviço pastoral pedido pelo Bispo de Maringá para uma obra paroquial em Presidente Castelo Branco, zona rural cuja população é formada em sua maioria de boias–frias.
Em 2002 é aberta uma comunidade em Xique-Xique na região do Sertão da Bahia, região Nordeste, para assumir a pastoral do menor, a pedido do Bispo da Barra. As coirmãs dirigem um centro diurno para a educação e evangelização de mais de duzentos meninos e jovens pobres e de suas famílias.
24.3 Equador
Fase inicial: anos 60
Fieis ao carisma apostólico da congregação, a delegação do Equador trabalha, desde seus inícios (1960), em três setores:
1) colaboração com a Missão Josefina do Napo através de escola para crianças e meninos indígenas do Oriente; direção e serviço médico-enfermeiro do hospital Santa Clara;
2) abertura de duas escolas populares na área urbana de San Rafael e em Guayaquil;
3) abertura da casa família «Hogar Santa Marianita» em Ambato para meninos abandonados.
Fase atual: a partir dos anos 90
A delegação equatoriana se qualifica pelo ensino em três escolas populares (escola materna, elementar, média inferior e liceu): em Santa Clara (cerca de 700 alunos); em Guayaquil (1500 alunas); em San Rafael (600 alunos).
O hospital continua sob a direção da madre Guillermina Gavilanes, médica. Pouco longe de Santa Clara se encontra a comunidade de Arosemena Tola onde as coirmãs prestam um serviço de pastoral paroquial missionária e animam um projeto de promoção da mulher indígena.
No ano 2000 a delegação abre uma nova missão em La Manà (diocese de Cotopaxi) com serviço de evangelização em colaboração com a paróquia da área rural. A população é constituída em sua maior parte de operários braçais que trabalham na plantação de bananas.
A novidade dos últimos decênios é devida a uma iniciativa de vanguarda em prol dos mais pobres: meninos, adolescentes, jovens de rua da cidade de Ambato. Em 1997 as coirmãs começam o «Projeto Don Bosco» que na sua primeira fase aproxima os meninos de rua e oferece um serviço de mesa e de alfabetização. Coirmãs e educadores tem como ambiente apostólico as ruas da cidade, o mercado, as paradas dos ônibus, a estação central e qualquer ambiente frequentado por meninos marginalizados. Em 2002 começou a segunda fase com laboratórios e oficinas para que os meninos possam aprender um trabalho. A obra oferece também um ambiente chamado «dormitório transitório» àqueles meninos e jovens que não tem família, levando-os gradualmente a uma autonomia de vida.
A partir do ano 2000 também a comunidade de San Rafael abre um espaço educativo para crianças e meninos de rua, órfãos, pobres, abandonados.Inicia, portanto, o «Projeto S. Leonardo Murialdo» que acolhe 25 menores em regime de internato e mais de 60 como centro diurno.
24.4 Chile
A partir de 1974
A ação apostólica das Murialdinas no Chile, desde o início (1974), foi dirigida à escolas populares. A primeira surge em La Reina para crianças e meninos dos arrabaldes de Santiago e, sobretudo da população pobre da cordilheira dos Andes. A segunda mantém também um refeitório. Na década de 1980-1990 se abre um internato para meninas e moças órfãs e abandonadas que tem a possibilidade de freqüentar a escola das coirmãs.
Em Quillota as coirmãs dirigem a escola elementar paroquial para meninos pobres «Sagrado Corazon» que em 2006 se transfere na cidade de Calera.
Nem 1986 as coirmãs em Valparaiso abrem um C.A.D. (centro diurno) para os meninos marginalizados de Rodelillo (zona de má fama e violenta), mas com a reforma escolar a educação na escola obrigatória é prolongada a tempo pleno, assim o C.A.D. se transforma num escola elementar e média para os mesmas crianças e meninos do bairro.
24.5 Argentina
A obra, inicada em 1996, tem três projetos sociais: o «Centro Educativo Leonardo Murialdo» e o «Jardin Maternal Emmanuel» (creche e escola materna): instituições situadas na periferia de Mendoza em Villa Nueva, Guaymallén; o «Jardin Maternal Angel Custodio» ao invés está situado em Villa Marini de Godoy Cruz.
As três instituições com população pobre, situada no bairro e nos bairros vizinhos. São frequantadas por crianças, meninos e meninas cujos pais estão desempregados ou operários sazonais.
Em particular o «Centro Educativo Leonardo Murialdo» acolhe 150 meninos entre os 5 e os 18 anos, com propostas formativas adequadas à idade, seguindo sempre as linhas da educação integral e dando oportunidade de formação, alimentação, jogo, reforço escolar, lazer, esporte, formação para o trabalho.
Os dois «Jardines Maternales» acolhem cerca de 200 crianças dos 2 aos 4 anos. Além disso, se realiza, um intenso trabalho apostólico com as famílias.
24.6 México
A fundação da obra da Cidade do México remonta aos nos de 1998: desde o início abriu-se o «Centro Educativo Leonardo Murialdo» que acolhe cada dia 200 crianças e meninos pobres e realiza um trabalho de promoção das mulheres (mães das crianças que freqüentam o centro) que foram abandonadas pelos maridos e vivem em situação de miséria e marginalidade.
O serviço do Centro Educativo cuida da formação humana e cristã, do reforço escolar, atividades educativas, recreativas, esportivas e artísticas.
Sempre fieis ao carisma em favor dos meninos pobres e às famílias, as coirmãs animam uma missão no Chiapas, zona indígena, doando seu serviço de evangelização em colaboração com os missionários do lugar, no período da Páscoa e nas férias de verão Junto às Irmãs participam nesta missão os jovens do grupo paroquial.
Em 2008 abriu-se a segunda comunidade murialdina no México na cidade de Aguascalientes com finalidade formativa. As coirmãs e as formandas se dedicam a atividades paroquiais, à pastoral social e à evangelização dos jovens e das famílias pobres, na paróquia dos Josefinos.
25. O caminho dos leigos e do Instituto Secular «São Murialdo»
A caminhada histórica até aqui delineada, formada de idéias e de realizações concretas, colocou mais vezes em evidência a evolução para uma maior participação dos leigos no carisma vivido pelos religiosos josefinos, aliás, levou ao conhecimento de um carisma que pertence não só a uma congregação, mas a toda a Família que se inspira em seu fundador. É, portanto, oportuno neste ponto, que se dê um olhar sintético sobre isto, a partir do tema específico do serviço aos jovens pobres .
O ponto de chegada do caminho é formado, por agora, pelos artigos 40-43 do Diretório, que faz parte da Regra de 2007.
Eis o texto: «A riqueza do carisma de Murialdo se manifesta em plenitude quando se concretiza nos diferentes modos de viver a vida cristã e faz amadurecer uma comunhão de vocações. Os confrades sentem um vínculo espiritual que os leva a constituir-se como Família de Murialdo com todos aqueles que, embora em estados de vida diversos, receberam, como eles, o dom concedido por Deus ao Fundador (art. 40).
Os confrades, considerando-se os primeiros depositários do carisma, dom do Espírito à Igreja para a utilidade comum, à luz da eclesiologia de comunhão, sentem fortificada a sua identidade internamente na mais ampla realidade denominada Família de Murialdo na qual se dilata o carisma do Fundador. (art. 41).
A congregação reconhece, sobretudo na congregação irmã das Irmãs Murialdinas de São José, também estas empenhadas na missão apostólica confiada por São Leonardo Murialdo a seus discípulos, o testemunho de seu espírito na Igreja. [...] Estão abertos à mútua colaboração na pastoral da juventude e vocacional, na formação e na atividade apostólica(art. 42).
No âmbito da Família de Murialdo, adquirem particular significado, as agregações de pessoas consagradas ou as associações de fieis leigos que se inspiram em São Leonardo Murialdo. A congregação ciente de que cada cristão é chamado a responder à própria vocação batismal no serviço apostólico, reconhece particularmente os leigos que, através de um caminho de formação e de um compromisso de uma pertença mais íntima, chegam a participar por vocação, numa modalidade sua própria, da espiritualidade de Murialdo. (art. 43)».
Nestes artigos se focalizam direta ou indiretamente aquelas realidades que há alguns anos eram definidas como Família de Murialdo «em sentido estrito», ou «por vocação»: os Josefinos, as Murialdinas, o Instituo Secular São Leonardo Murialdo, os Leigos de Murialdo. Trata-se de pessoas que não só partilham o apostolado murialdino, mas também a pertença espiritual, testemunhando o carisma de São Leonardo em seu estado de vida, na família, na profissão e nutrindo com ele sua espiritualidade.
Os artigos 44-45 descrevem depois uma pertença «em sentido lato», ou «por associação», à Família de Murialdo, embora sem usar estes termos: trata-se dos ex-alunos, colaboradores, amigos, benfeitores, mães apostólicas... pessoas enfim que freqüentaram ou frequentam as obras da Família de Murialdo e que estão ligadas a ela pela simpatia, pela sintonia espiritual, por iniciativas apostólicas.
A respeito dos Leigos de Murialdo devemos recordar que eles, «qualquer que seja seu estado de vida, desejam partilhar o carisma de Murialdo e participar da missão da congregação dos Josefinos ou Murialdinas, especialmente em favor do bem material dos jovens mais pobres e marginalizados» (Pontos de referência acerca da adesão dos «Leigos» [colaboradores ou não] da Família de Murialdo, n. 1, in «Lettere Giuseppine», [1990], n. 5, p. 160). No mesmo documento, no n. 8 se afirma que os Leigos de Murialdo são chamados por Deus a «integrar e a enriquecer espiritual e apostolicamente» as comunidades dos Josefinos e das Murialdinas.
Naturalmente, se lê num texto de 1994, isto acontece numa partilha «de uma mesma escolha vocacional, também se em funções diferentes e com uma especificidade diferente», mas igualmente na certeza de sermos todos chamados «a seguir Cristo segundo o carisma de Murialdo, que como leigos eles se empenharam a viver na realidade quotidiana «com escolhas de vida que se inspiram aos conselhos evangélicos», preferencialmente «em prol de quem tem necessidade, primeiros entre todos os menores» (Carta das Comunidades Leigos de Murialdo aos irmãos consagrados na congregação dos Josefinos de Murialdo por ocasião do seu XIX Capítulo Geral. Às irmãs consagradas na congregação das Murialdinas de São José, n. 2).
O caminho dos leigos da Família de Murialdo encontrou na Itália uma modalidade expressiva que foi denominada «Comunidade Leigos de Murialdo»: aderindo ao carisma espiritual murialdino, eles partilham também aquele apostólico, «âmbitos e modalidades diversas» (Comunidade Leigos de Murialdo. Elementos característicos, in «Vita Giuseppina» [1998], n. 8, p. 231).
Num contexto mais amplo, as várias realidades leigas que «respiram» o carisma murialdino estão convencidas que «reler o carisma “juntos” [entre religiosos e leigos], isto é, ao masculino, ao feminino e de acordo com a modalidade leiga, não só ajuda a compreendê-lo, a colocá-lo em prática e a amá-lo mais,mas ajuda ainda a individuar as potencialidades que o carisma está em condições de enriquecer uns e outros, ajuda a escutar as esperas que o carisma suscita nas relações em uns e outros e a tomar », sabendo, além disso, inoltre, «che il carisma del Fondatore possa espandersi e risultare fecondo anche al di là delle opere» (Lettera delle Realtà Laicali ai Capitolari, in occasione del Capitolo Provinciale delle Province Italiane, gennaio 2006, in Congregazione di San Giuseppe. Giuseppini del Murialdo. Provincia Italiana, Laici e religiosi per camminare insieme, (Quaderni di Formazione permanente, n. 2), Roma 2008, p. 15 e p. 17).
Uma forma especial de consagração murialdina é o Instituto Secular São Murialdo. Trata-se de uma realidade eclesial que em seu espírito e em seu estilo de vida tem suas raízes no carisma de São Leonardo Murialdo. Foi aprovado canonicamente pelo bispo de Caxias do Sul (Brasil) no dia 19 de março de 1996, mas havia começado fazia seis anos. E’ formado de mulheres consagradas que «se empenham em viver os conselhos evangélicos no mundo e a partir do mundo», cada uma em sua profissão e no seu trabalho, como é típico dos Institutos Seculares (Tullio Locatelli, Istituto Secolare S. Murialdo, in «Vita Giuseppina», [1997], n. 1, p. 6).
O carisma apostólico de Murialdo está aí bem presente, junto com aquele espiritual: «Este grupo deseja testemunhar no mundo e com o mundo, o amor infinito, terno, pessoal e misericordioso de Deus». As mulheres que fazem parte (mulheres solteiras ou viúvas) «valorizam o dom da vida, dedicando-se aos pequenos e aos jovens pobres, agindo em favor dos oprimidos» (sic); cada uma se mantém com o exercício de sua profissão, que oferece também a possibilidade de empreender atividades de voluntariado e de ajuda ao próximo.
Giovenale Dotta
Tradutor: Pe. Cornélio Dall’Alba, Orleans, 27 de março de 2009.