P. Giovenale Dotta - 01 maggio 2009 por

 

O CARISMA DE MURIALDO

À SERVIÇO AOS JOVENS POBRES

(A partir de São Leonardo aos nossos dias)

(Giovenale Dotta)

 

                                                      II parte

 

13.A renovação conciliar

 

O Concílio Vaticano II (1962-65) trouxe uma grande renovação na Igreja e na vida das congregações religiosas. Como as outras, também a família josefina foi convidada a reformular os princípios sobre os quais usava sua espiritualidade e sua ação pastoral. Isto foi feito com um Capítulo Geral Especial (o XIV a partir dos inícios da congregação), celebrado em Roma do dia 30 de março ao dia 8 de agosto de 1969. Dele nasceram os Decretos capitulares que substituíram, ad experimentum, toda a legislação anterior (Costituzioni, Direttorio, Ordinamento generale degli studi).

Foi um “salto qualitativo” confrontado com as Constituições anteriores, em particular do ponto de vista doutrinal e carismático. Sobretudo a riqueza da tradição encontrou nos  Decretos capitolares um lugar de honra e o código fundamental de vida da congregação recuperou o sabor e o espírito genuíno das origens. Verdadeiramente se tem um texto “josefino” que apresenta a fisionomia própria da congregação» (Giuseppe Fossati, Una storia per la vita..., I, p. 86). Este texto, com as modificações acrescentadas pelo XV Capítulo Geral de 1970, foi publicado em 1971 com o título Documenti capitolari. O capítulo sobre o «apostolato josefino nas suas diversas formas e ambientes» reúne muito bem a riqueza carismática e atualização pastoral e educativa.

Os Documentos capitolares de 1969 correspondiam ao apelo que o concílio tinha dirigido aos religiosos, convidando-os a voltar às fontes, isto é, a seu espírito primitivo, e ao mesmo tempo a procurar a modalidade de uma eficaz adaptação às mudadas condições dos tempos  (n. 784).

Estes afirmavam: «a nossa congregação quis se qualificar, desde os seus inícios, por uma especial sensibilidade às exigências morais e sociais da juventude pobre e necessitada. O apostolado educativo em favor desta juventude, nosso fim específico, deve, por isso, também hoje ser considerado, de direito e de fato, como prioritário  » (n. 785).

Os Documentos lembravam depois a abertura de obras dirigidas aos jovens de classe mais abastada, para a quais se tinha sempre desejado «que houvesse anexas, possivelmente, atividades em favor dos pobres» (n. 786).

Insistia-se, além disso, num conceito já presente no Regolamento de 1873: também se a juventude era o fim primário das obras josefinas, não era «alheio ao espírito da congregação atender os adultos da classe operária, com a instrução e a pregação» (n. 787). As paróquias depois deviam «ter uma impostação pastoral peculiarmente josefina em favor das classes mais sofridas» (n. 788).

«O fim e o empenho apostólico, que caracterizam essencialmente a congregação, adquirem hoje uma validade ainda maior, porque tanto o problema da juventude, sobretudo, daquela menos amparada socialmente e moralmente, quanto o problema da promoção da classe trabalhadora, entram entre os sinais mais significativos do nosso tempo e são objeto de cuidado particular por parte da Igreja » (n. 790).

Delineando enfim a figura do Josefino educador, os Documentos capitolares afirmam que ele «se dedica com predileção àqueles aos quais faltam os bens e o afeto [e] àqueles que são menos dotados de dotes naturais» (n. 858). Muitos números são dedicados à presença pastoral no mundo do trabalho (nn. 953-966) e à tentativa de entrever novas perspectivas de empenho apostólico: a sensibilização das classes elevadas para os menos favorecidos pela sorte, a formação cristã da juventude operária e rural, o contato com os    «afastados», a colaboração com os leigos... (nn. 1025-1035).

 

 

14. Os anos Setenta

 

Em 1970 foi realizado em Roma o XV Capítulo Geral. Deu-se um grande espaço para o exame dos documentos do Capítulo especial, que se tornaram, como se viu, a nova legislação da congregação, embora ad experimentum. Este  dedicou grande atenção   problema das vocações, tendo presente a crise que começava a se fazer sentir. Recomendava-se aos promotores vocacionais  de apresentar a especificidade do sacerdócio josefino,que não é somente um sacerdócio ministerial, mas também carismático, considerando que assume «os carismas evangélicos da vida comunitária, da castidade, da pobreza e obediência e da caridade apostólica para com os pobres na categoria dos jovens» (Recomendação n. 1).

 

Confirmava-se o empenho missionário no vicariato do Napo, mas se  considerava desejável algum outro apostolado missionário, também em territórios não confiados à Congregação (n. 3): eram os primeiros passos rumo às futuras aberturas na África, novo campo de trabalho em meio aos pobres.

 

O problema do apostolado entre os pobres, e de uma vida efetivamente pobre, teria depois surgido melhor no XVI Capítulo Geral acontecido em Roma em 1976, que encorajava a continuar no esforço já em ato para um maior conhecimento do carisma de Murialdo (Recomendação n. 1),chamava a atenção sobre o problema da relação entre carisma da Congregação e carismas pessoais, em relação à busca de caminhos apostólicos novos (n. 2), convidava os confrades  «a solidarizar-se, com o testemunho de sua vida, com os mais pobres e mais necessitados» e, antes ainda de colocar em pauta o assunto do apostolado entre os jovens pobres, pedia «uma volta corajosa à pobreza evangelicamente vivida, com a escolha de um estilo de vida pessoal e comunitário que se contenta do essencial» (n. 4).

 

Reafirmava depois a «finalidade específica da nossa Congregação para os jovens pobres, abandonados e para o mundo do trabalho», pedindo «uma permanente revisão das nossas obras, para que correspondam à expectativa do ambiente e às novas formas que assume hoje a pobreza dos jovens»; sugeria-se, além disso, que cada comunidade tivesse, entre outras, alguma atividade significativa em favor dos jovens pobres (n. 7).

 

Pela primeira vez um Capítulo geral sublinhava que os colaboradores leigos são «conosco [...] membros ativos de apostolado» e pedia a eles de ter um «conhecimento adequado das linhas que identificam a educação josefina (carisma)» (n. 8).

 

Nas «Linhas de programação», e precisamente no parágrafo dedicado ao apostolado josefino, se reafirmava «nas escolhas concretas o fim primário da nossa congregação: dedicar-se aos jovens pobres e abandonados e ao mundo do trabalho» e se insistia pedindo que em cada comunidade houvesse alguma atividade significativa que respondesse «às novas formas de pobreza em que se encontram os jovens de hoje (abandonados, drogados, órfãos, filhos de pais em dificuldade...)». Voltava depois o pedido de «qualificar espiritualmente e apostolicamente os leigos, nossos colaboradores».

15. Dos colégios às casas família

 

Entre as atividades que o Capítulo de 1976 tinha considerado «significativas», estavam emergindo naqueles anos as casas família. Sua pré-história tem as raízes no segundo pós-guerra, caracterizado, na Itália, por grandes necessidades sociais. O conflito  tinha deixado muitos órfãos e a sucessiva emigração tinha desagregado ou ao menos arrancado do próprio ambiente muitas famílias. Milhares de meninos sozinhos ou com problemas familiares encontravam acolhida nos orfanatos e nos colégios dos religiosos e religiosas. A partir dos anos cinquenta começou, porém, a aparecer alguma resposta alternativa ao instituto: comunidades tipo familiar para 12-15 crianças, que foram se difundindo nos anos Sessenta e Setenta, tornado-se com o tempo mais pequenas e mais semelhantes à família. Algumas tinham uma matriz leiga, outras de inspiração cristã. No lugar dos colégios estavam nascendo as casas família.

 

No segundo grupo, aquele de inspiração cristã, se colocava também a Associação Murialdo de Pádua. Era uma associação de voluntariado, formada por religiosos josefinos e leigos os quais se dedicavam em acolher meninos e jovens em estado de abandono e sem ligações familiares estáveis: os meninos eram e são acolhidos pelas mesmas famílias, em suas casas, ou por religiosos ao lado ou de qualquer modo dentro de suas comunidades, ou em casas alugadas.Esta forma de acolhida de tipo familiar tinha surgido em  1972, graças à colaboração entre a administração provincial de Pádua e a iniciativa privada, neste caso os Josefinos de Murialdo.

 

Pouco por vez os institutos assistenciais eram questionados, na intenção de promover outras formas de assistência. Surgiram, por isso, várias pequenas comunidades de acolhida, administradas diretamente por religiosos, com a colaboração de operadores e voluntários. Por vezes os mesmos religiosos partilhavam e partilham a vida com pequenos grupos de meninos e adolescentes. Em tais casos se formavam comunidades profissionais, em apartamentos com 4-6 menores e com operadores  presentes em turno, de acordo com os horários de trabalho.

 

Este caminho interessou várias congregações e naturalmente também os Josefinos, que, aliás, se tinham demonstrado atentos e propositivos desde o início deste movimento, graças a alguns confrades e leigos que trabalhavam com eles. A Associação Murialdo de Pádua tinha começado muitos núcleos, situados em vários apartamentos. Em Trento nasceu a a Comunidade Murialdo (1979), com diversas  «filiais» de casas família e de centros diurnos. Outras casas família nasceram em seguia: em 1980 em Acquedolci; em 1984 em Foggia, em Laives,  Milão,  Santa Marinella,  Viterbo; em 1985 em Mendoza (Argentina) e em Roma; em 1986 em Venezia; em 1987 em Vicenza; em 1991 em Getafe (Espanha), em Rosario de la Frontera (Argentina) e em Lucera; em 1992 ema Bogotà. No decorrer dos anos  noventa surgiram outras em Buenos Aires, Treviso, Brasília e também em outros lugares e em 1998 se constituía oficialmente o CNAM, (Coordinamento Nazionale Accoglienza Murialdo), com a finalidade de «federalizar» as comunidades, as associações, as organizações de voluntariado e as cooperativas que na Itália trabalham neste campo.

 

 

16. Nunca tão grande atenção aos pobres (1982)

 

A redescoberta progressiva do carisma do fundador fazia crescer na congregação a sensibilidade para o apostolado em favor dos jovens pobres, tema que no XVII Capítulo (Viterbo, 1982) assumiu um destaque nunca verificado antes. Enquanto se preparava o evento, o superior geral, Pe. Jerônimo  Zanconato, escrevia uma carta circular aos confrades eleitos para o Capítulo (10 de janeiro de 1982), na qual sublinhava, entre outras coisas, a necessidade da  «requalificação» das obras josefinas, a fim de que fossem realmente para os jovens pobres.

Contudo a diminuição numérica, em 1979 a congregação, graças à Província vêneta, abria em Lunsar, na Serra Leoa, uma presença pastoral e educativa no coração de um dos países mais pobres da África.

O Capítulo convidava as comunidades a ficar atentas «às necessidades sempre novas e aos “sinais dos tempos”, advertindo os confrades para que evitassem o perigo de uma vida burguesa, afastada da precariedade que caracteriza muitas formas de pobreza (Linhas de programação, 1.2). Um inteiro, um longo parágrafo foi dedicado ao apostolado entre os jovens pobres.

O Capítulo recuperava o espírito da congregação, o da educação dos jovens pobres, abandonados e mais necessitados de ajuda e de educação cristã. Em seguida traçava um verdadeiro e próprio programa de «reconversão» aos jovens pobres.

«Cada província, por meio de intervenções adequadas do capítulo provincial, do conselho e da comunidade, se esforce para fazer com que gradualmente no prazo de três anos e ao menos antes do término do sexênio se possa reconhecer muito mais do que hoje que a congregação é fiel a esta missão específica, com uma linha apostólica clara e uma prioridade evidente de empenho nesta opção.

 

[...] Para ajudar a realização de tal projeto, o Capítulo:

 

a) pede que cada uma de nossas obras sinta o dever de procurar espaços de serviço para os nossos jovens pobres (casas família, em apartamento ou no instituto, entrega ou apoio de jovens a famílias, alimentação, acolhida em casos de emergência e outras formas de presença aberta no território, também com a contribuição de colaboradores;

b) convida a sensibilizar os jovens de todas as nossas obras e atividades ao serviço de seus companheiros mais humildes e necessitados e fazer trabalho semelhante para com os colaboradores leigos, os voluntários, os ex-alunos, os adultos de todas as nossas obras e paróquias.

 

Afirma que a nossa congregação não se dedica especificamente à faixas de marginalização qualificada (drogados, deficientes,encarcerados...) mas antes à marginalização de massa (periferias, bairros populares, assistência aos menores)» (Linhas de programação, 2.1).

A escolha do envolvimento dos jovens, dos colaboradores, dos leigos, dos voluntários no campo do trabalho em meio aos pobres era proposta a propósito das iniciativas missionárias já existentes ou em vias de projetação  (2.2).

 

 

17. ARegra de 1984

 

Compreende as  Constituições e Capítulo especial de 1969. Com razão o superior geral, Pe.Paulo Mietto, na carta de promulgação escrevia que se tratava de uma «volta às fontes», isto é, ao Evangelho e ao carisma do fundador, como também de uma «adaptação às novas condições dos tempos» (A Regra. Constituições-Diretório, Roma 1984, p. VIII). Tal Regra tem um valor muito especial enquanto apresenta o específico projeto de vida do Josefino enriquecido com a nova linfa carismática que agora vinha mais abundante das raízes da velha árvore; é, portanto, de notável interesse reler os passos que tratam do apostolado em favor dos jovens pobres.   

 

A Regra de 1984 contém um texto que é uma premissa; intitula-se: Origem e carisma da congregação. Não faz parte das Constituições, mas faz  uma bela «síntese histórico-carismática da tradição josefina» e constitui, portanto, um «ponto de referência para toda a legislação da congregação» (Giuseppe Fossati, Una storia per la vita..., I, p. 98).

 

Na Regra depois, o capítulo dedicado à vida apostólica iniciava afirmando que  «desde as origens, a congregação de São José teve na Igreja a missão específica de dedicar-se aos jovens pobres, abandonados e mais necessitados de ajuda e de educação cristã » (art. 45).

 

Definidos os destinatários, se definiam os âmbitos: «Mantendo sempre a prioridade do empenho para os jovens, finalidade específica da congregação, esta pode desenvolver seu apostolado também entre os operários, os adultos da classe popular e os povos ainda não evangelizados, seguindo as indicações da Providência. A Congregação promove a elevação da classe operária, sobretudo, pela formação dos jovens que se inserem no mundo do trabalho.   » (art. 46).

 

«Atenta aos sinais dos tempos e adequando-se às circunstâncias de pessoas e  lugares, a congregação oferece, nas suas instituições e através de suas atividades,  uma casa e uma família aos jovens que não a têm, possibilidade de estudo e de formação para o trabalho, um ambiente educativo e sobretudo um centro de evangelização e de vida cristã» (art. 47).

 

O texto continuava abordando os temas da formação integral, humana e cristã, do estilo comunitário no apostolado, do contato direto com os jovens, entre os quais o Josefino se encontra como «amigo, irmão e pai», da catequese, da colaboração com os leigos.

 

Pouco tempo depois, exatamente os leigos, para contar apenas um exemplo, eram convidados a partilhar o carisma apostólico a serviço dos meninos pobres e sozinhos, pelo Pe. Paulo Mietto, superior geral, em sua carta circular com o título comprometedor Na paróquia josefina nenhum menino sem família.  O Pe. Mietto desejava que surgisse nas paróquias josefinas «um pequeno grupo de leigos, melhor se fossem famílias, com a finalidade de representar um ponto de referência seja para as famílias disponíveis para ajudar crianças e meninos em  dificuldade. 

 

[...] A comunidade paroquial [...] pode e deve encarregar-se da situação de marginalização dos meninos e dos jovens do território, desenvolvendo uma mentalidade de partilha para viver numa síntese vital a escuta da Palavra de Deus, a celebração da Eucaristia e o testemunho da caridade.

 

[...] E’ talvez um sonho por demais bonito pensar na paróquia josefina como um terreno privilegiado onde as famílias se ajudam mutuamente para socorrer os meninos em dificuldade?» (Paolo Mietto, Nella parrocchia giuseppina nessun ragazzo senza famiglia, in «Lettere Giuseppine» [1984], n. 5, pp. 136-137).

 

A carta nascia no contexto de um caminho já começado há tempo (aquele da assistência aos meninos em dificuldade no seio de estruturas familiares) e contribuìu esta mesma para um significativo desenvolvimento da acolhida através das casas família.

 

 

18. Uma constante do século XX: as paróquias

 

A aceitação de uma paróquia, a primeira, por parte da Congregação, era apresentada aos Josefinos pelo superior geral de então, Pe. Júlio  Costantino, na sua carta circular de  10 de fevereiro de 1909. Ele escrevia: «Vós já sabeis, caríssimos confrades, que a benevolência do Santo Padre [Pio X] quis confiar-nos em Roma a nova paróquia da Imaculada no Borgo S. Lorenzo [...] e as Escolas  Pontifícias daquele bairro e Oratório ou Patronato daqueles pobres meninos. Cada uma destas obras seriam certamente suficientes para esgotar as forças, o que será ter que levá-las a cabo todas ao mesmo tempo?». O Pe. Costantino continuava sublinhando que não tinha sido a congregação a pedir, mas o Papa havia oferecido o novo campo de trabalho, uma obra  «de grande relevância», «a maior que a nossa pequena Sociedade até agora assume» (Giulio Costantino, Lettere circolari..., pp. 105-106).

 

Com efeito as primeiras regras da congregação não mencionavam as paróquias entre os âmbitos apostólicos nos quais se explicitava a ação dos Josefinos; sobre este ponto calavam os textos de  1873,  1875 e  1904. Mas, sabe-se, a vida vivida precede o direito e, portanto, as paróquias entraram antes na vida da congregação (1909) e depois nos seus estatutos: com efeito nas  Constituições de 1923 se lê que a congregação exercia sua ação nos colégios, nas escolas, nos orfanatos, nos oratórios [...] «e por vezes também nas paróquias, que devem ter anexa uma obra para a educação da juventude» (art. 3). E’ a linha, não só prática, mas também teórica, que sempre se tentou seguir depois: ação aos jovens.  

 

A segunda paróquia josefina foi aquela de Montecompatri, administrada de 1912 a 1922. Seguiram-se outras no Brasil em 1915 (Jaguarão e Quinta), no Equador em 1922 (Tena) e assim por diante em outras localidades. Talvez seja bom lembrar algumas, sem querer cometer injustiças àquelas que por falta de espaço e tempo não são elencadas: Conegliano (1924); Nápoles e Turim (1927), Ana Rech (Brasil, 1928), Foggia e Veneza (1931), Lucera (1932), Buenos Aires (1936), Viterbo (S. Maria delle Farine, 1936), Quito (Equador, 1937), Mendoza (Argentina, 1940), Milão (1940), Fazenda Sousa (Brasil, 1947), La Reina (Chile, 1948), Requinoa (Chile, 1949), Valparaiso (Chile, 1951), Rossano Calabro (1953), Padua (1954), Porto Alegre (Brasil, 1954), Guayaquil (Equador, 1956) e subindo até Brasilia (1968), Viterbo (S. L. Murialdo, 1972), Taranto (1979), Bogotá (1983), Rio de Janeiro (1983), Madrid (1987), Londrina (Brasil, 1989). Na década de noventa foram abertas ainda três paróquias no México, três no Brasil, uma no Equador e uma na Argentina. Foram aceitas uma paróquia em Modena (2001), uma em Medellin (Colômbia, 2002) e uma na Espanha em 2007. Muitas paróquias se encontram na missão josefina do Napo (Equador), duas na Guiné Bissau e duas nos Estados Unidos da América.

 

Como se vê, a aceitação das paróquias é uma constante do século XX e parece que se mantenha neste novo século: às vezes, para satisfazer os pedidos dos Bispos, outras vezes para ter um campo de apostolado em alguma região ou nação, outras vezes ainda para seguir o «gênio» pastoral dos confrades. Em sempre é fácil, numa paróquia, manter a atenção especial para os jovens, especialmente pobres e abandonados, para as camadas populares e para o mundo do trabalho.. Por vezes os superiores encaminharam boas reflexões em tal sentido. Assim fizeram o Pe. Paulo Mietto em 1984, com a já citada carta aos confrades  ocupados em paróquia (Na paróquia josefina nenhum menino sem família). E de resto, para  delinear as prioridades da pastoral josefina permanece como ponto de referência o fato de que as paróquias da congregação, por quanto possível, «devem estar situadas em bairros populares de modo a oferecer um campo propício para servir à juventude mais carente» (Origem e carisma, n. XX).

 

19. Centros diurnos e centros abertos

 

Na atividade educativa dos Josefinos e dos leigos que partilham seu apostolado, a década de oitenta do século passado foram caracterizados pelo surgimento de diversas casas família. O fenômeno foi se solidificando e também se redimensionando na década de noventa que viu surgir de preferência a difusão de novas modalidades de atuação: os centros diurnos e os centros abertos.

 A bem da verdade, iniciativas desse tipo tinham surgido também antes, embora com nomes diferentes, e afundavam suas raízes nos antigos “reforço escolar” que acompanhavam os meninos nas atividades vespertinas para «fazer as tarefas de aula» para o dia seguinte. Penso, por exemplo, em Caxias do Sul, no Brasil, onde uma obra classificável com o título atual de centro diurno surgira no fim dos anos setenta. Ainda hoje este centro, como vários outros no Brasil, acolhe meninos de manhã à tarde, oferecendo-lhes reforço escolar, atividades formativas e recreativas, refeições, serviços médicos e psicológicos («Lettere Giuseppine», [1997], n. 1, p. 23).

Uma atividade deste tipo seria classificada na Itália, com o nome de centro diurno, enquanto o centro aberto assume modalidades mais flexíveis, no sentido que vai ao encontro dos meninos que, embora necessitados de acompanhamento em certas horas do dia, tem, todavia, outros pontos de referência mais ou menos estáveis e eficazes, como a escola família. 

Não só no Brasil, mas em tantas outras nações, os Josefinos se tornaram promotores de iniciativas semelhantes nestes últimos anos: 1987 (Madrid); 1988 (Araranguá, Brasil); 1991 (Viterbo); 1993 (San Giuseppe Vesuviano); 1994 (Azuqueca de Henares, Spagna); 1995 (Rosario de la Frontera, Argentina); 1996 (Ana Rech, Brasil; Quito, Equador); 1997 (Sigüenza, Espanha; Turim Artigianelli; Milano); 1998 (Aguascalientes, Mexico; Nápoles; Turim, paróquia  della Salute); 1999 (Belém e Porto Alegre no Brasil; Foggia; Getafe, na Espanha; Vicenza); 2000 (Cefalù, Pádua, Requínoa e Valparaiso no Chile); 2003 (Cidade do México); 2004 (Hermosillo, no México; Rossano Calabro); 2005 (Ibotirama, no Brasil; Buenos Aires); 2007 (Roman, na Romênia).

Na América do Sul muitos destes centros se preocupam também na preparação para o trabalho. Interessante é a experiência denominada «Su cambio por el cambio»(em português: Seu troco para trocar), em Quito, capital do Equador. O nome significa uma iniciativa muito popular: convida-se o povo a dar o «troco» (cambio) das compras para ajudar «trocar (cambiar)» a sociedade prevenindo o problema dos meninos de rua. O dinheiro recolhido serve para financiar iniciativas esportivas, educativas, de recuperação escolar e de preparação para o trabalho.

Na Itália os centros diurnos acompanham os meninos enviados pelo serviço social que supervisiona e financia o projeto, enquanto nos centros abertos os serviços sociais não estão presentes com atividades personalizadas, embora subvencionando em certos casos o conjunto das atividades. Em geral se parte do reforço escolar, o mais possível individualizado (um adulto para dois ou três meninos), para chegar depois a tomar conta dos outros problemas que impedem o crescimento normal educativo dos menores. Além da ajuda nos deveres escolares e nas lições (com todo o corolário do diálogo com os professores), oferecem-se momentos de animação, de jogo, de laboratório, de formação espiritual. Quase sempre os centros diurnos oferecem também o almoço. Outras vezes, mas trata-se de casos mais raros, os centros diurnos tem só um horário vespertino, todavia, sempre com meninos selecionados pelo serviço social. Em 2008 na Itália a congregação sustentava 12 centros diurnos que atendiam aproximadamente 230 menores e 8 centros abertos que envolviam 320 meninos e meninas.    

 

 

 

20. Novo fervor missionário

 

Até os anos 60, a congregação tinha entrado em sete nações, além da Itália. As presenças no exterior, não muito diversificadas, eram, porém, caracterizadas pela tentativa de implantar várias comunidades nas nações em que se trabalhava  e eram acompanhadas contemporaneamente pela consciência de ter que sustentar principalmente a missão do Napo.

Pode-se dizer que a partir do fim dos anos setenta mudou a estratégia da congregação: começou-se por dar mais ênfase à diversificação das presenças, para corresponder ao desejo de missionariedade expresso por muitos confrades e por numerosos leigos que gravitavam ao redor dos Josefinos, e também par encontrar novos centros vocacionais em outras nações. As «aberturas» da década de oitenta e noventa são o sinal de um novo dinamismo que não partia só do governo central da congregação, mas também e antes ainda das realidades periféricas, isto é, das províncias.

Eis então os Josefinos do Vêneto que partem para a Serra Leoa (1979), como já se disse, e os da província piemontesa para a Guiné Bissau (1984). Nesse tempo a Província equatoriana tinha procurado uma expansão própria em  Bogotá, na Colômbia (1983).

O XVIII Capítulo Geral (Viterbo, 1988), embora tratando de vários temas, registrava e sustentava também este novo elã missionário.

Naquele Capítulo emergia vistosamente o tema da «comunhão com os leigos, participantes da única missão». Era uma mudança de perspectiva: de colaboradores, os leigos se tornavam participantes da missão apostólica dos Josefinos (Deliberações, 2).

E’ claro que o conceito de «colaborador» permanecia ainda, mas, sob a palavra, se estava formando uma nova visão. Afirmava-se que a vocação josefina, isto é, o carisma, oferecia aos leigos «uma tensão profética, seja pessoal como comunitária, para os últimos tempos [e] um carisma espiritual e apostólico, [junto] a uma tradição educativa consolidada» (2.2). A presença dos leigos era considerada um «elemento estimulante» para as comunidades e «constitutivo» para as obras (2.3), enquanto se pedia que se propagasse «o estilo da participação na elaboração, na gestão, na avaliação dos projetos apostólicos» (2.3).

O Capítulo se preocupava em assegurar aos leigos «itinerários formativos ao redor dos temas do carisma josefino, da espiritualidade dos leigos e daqueles tipicamente leigos, como compromisso social e político, vida familiar, mundo do trabalho e da educação etc.». Falava-se de eventuais formas de consagração laical e de assumir responsabilidades «na condução de atividades, especialmente educativas e de assistência», no quadro de uma  «nova e difusa vocacionalidade» (2.4). A consequência era que também os confrades se formassem para um relacionamento e colaboração dos leigos (2.5).

Os Josefinos, descritos como «apóstolos entre os jovens especialmente pobres» (3), eram convidados, comunitariamente, «a entrar nos lugares onde se reúnem os jovens, preocupando-se sempre mais das suas realidades de risco» e a sensibilizar os jovens «a formas de voluntariado, de cooperação, de serviço civil e de objeção de consciência contra as orientações anti-evangélicas das leis e da sociedade» (3.2.1).

O compromisso, para o sexênio, era o de renovar «a opção prioritária em favor dos jovens pobres e abandonados», com uma nova força, aquela da interação com as outras forças pastorais, educativas e sociais atuantes na região, indo além do puro assistencialismo e colocando-se «na escuta das formas sempre novas de pobreza [...:] meninos de rua, de periferia, de bairros populares, [...] ou de fenômenos como a imigração, a inadequação das estruturas escolares, a crise da família, a cultura da droga e das gangues de jovens.» (3.4).

Reafirmava-se, enfim, a importância de uma nossa presença «atenta, corajosa e culturalmente aprofundada no mundo do trabalho» (3.5) e se convidava para uma maior sensibilidade em relação aos problemas do terceiro e quarto mundo (3.7).

 

21. Pobres materialmente, socialmente e moralmente

 

A resposta do carisma de Murialdo, efetuada a partir da década de sessenta que culminou com a proclamação da sua santidade em 1970 e ainda a redação da  Regra de 1984, tinha dado origem a um certo debate sobre as obras apostólicas mantidas pela congregação e sobre os critérios a serem seguidos ao se abrirem novas. O tema foi enfrentado também em várias reuniões do Centro Histórico dos Josefinos de Murialdo, que fora constituído entre 1982 e  1983. Dele saiu um documento intitulado Carisma apostólico confiado à Congregação que contribuiu a clarear a questão e a orientar o caminho sucessivo.

«Aparece claramente desde os primeiros documentos da congregação [...] que nosso campo de apostolado, antes exclusivo, depois principal e preferencial, é a educação dos jovens pobres, abandonados, ou necessitados de correção.

 

Também nos comentários do Pe. Reffo e de Murialdo mesmo, os que se referem ao nosso apostolado são sempre principalmente:

- os jovens pobres e abandonados, isto é, pobres materialmente e socialmente, ou

-os jovens necessitados de ajuda e de educação cristã (para prevenir) ou necessitados de correção (para recuperar), isto é, os jovens pobres moralmente: aqueles que, independentemente da condição social ou familiar, são, de acordo com a terminologia do tempo, já travessos (discoli) ou em perigo de sê-lo». ([Centro Storico Giuseppini del Murialdo], Carisma apostólico confiado à  Congregação, em «Lettere Giuseppine» [1993], n. 7, p. 170).

 

No centro, afinal, havia os jovens, sobretudo, se pobres e abandonados. Isto iria reafirmar o XIX Capítulo Geral, realizado em Viterbo em 1994. As idéias básicas foram as do «renascimento», numa vida rica de transcendência e sinceramente fraterna, aquela da Família de Murialdo, aquela do «jovem centro».

 

A congregação descobria a beleza da partilha do carisma espiritual e apostólico «com outros irmãos e irmãs» (as Murialdinas, o Instituto secular, os Leigos de Murialdo, os colaboradores, os próprios jovens...), isto é, com aquele conjunto mais vasto que o mesmo Capítulo definia como «Família de Murialdo» (3; 3.2; 3.3.3). Os leigos não eram somente os «destinatários da nossa pastoral» (3.1), mas se tronavam responsáveis também eles da guarda, da transmissão e da encarnação do carisma. A vocação cristã se vive de modos diversos, mas com um elo que «nos constitui em Família de Murialdo» com todos aqueles que receberam, junto conosco, o dom dado por Deus ao nosso fundador». Exatamente por isso os capitulares afirmavam a convicção de que tinham muito a receber também dos leigos (3.2 e 3.3.1).

Encaminhava-se o discurso de «formação mútua dos leigos e dos confrades chamados a colaborar com eles» (3.3.2).

Afirmava-se também que «através dos Leigos de Murialdo [...] os carisma do fundador pode encontrar aspectos ainda não desenvolvidos adequadamente (presença no social, no político, nos meios de comunicação, na cooperação) e descobrir novos campos de presença» (3.3.3).

A outra idéia básica era aquela do «jovem no centro». O Capítulo reconhecia que a identidade josefina «se expressa necessariamente na dimensão apostólica,   e precisamente na dedicação aos jovens pobres, abandonados e mais necessitados de ajuda e de educação cristã. Reafirmando, portanto, escreviam os capitulares, a centralidade do jovem, especialmente pobre, no nosso empenho apostólico pessoal e comunitário» (4.2.1). Insistia-se além do mais que não se tratava somente de um empenho de caráter sócio-existencial, mas de um apostolado em prol da salvação dos jovens  (ne perdantur).  Seguia-se depois uma longa lista de escolhas e compromissos, exatamente para «repor os jovens no centro de nossa missão» (4.2.2 e 4.2.3).

A centralidade do jovem aparecia também entre as escolhas metodológicas evidenciadas dois anos depois pelo documento elaborado pelo Grupo Central de  Pastoral Josefina e intitulado Linhas de pastoral josefina (1996).

 

 

22. Abertura a novas nações e participação do carisma

 

O XX Capítulo Geral (Turim, 2000) era celebrado no contexto do Jubileu da Redenção e no centenário da morte de São Leonardo Murialdo. Nos anos que o precederam (entre 1997 e 1999), as comunidades josefinas da Serra Leoa tinham participado dos horrores da guerra, a destruição das obras e a arriscada prisão de vários confrades, enquanto também a Guiné Bissau era ensangüentada por violentos e prolongados combates entre rebeldes e tropas do governo. Não obstante estas provas, e por vezes por causa delas, a congregação tinha continuado a abertura a outras: México (1990), Albânia (1994), Índia e Romênia (1998), Gana (1999). O carisma de Murialdo alcançava novos horizontes e interagia com sempre novas populações e novas culturas. Ao mesmo tempo se desenvolvia  o ENGIM-ONG para sustentar os projetos de ajuda aos países em via de desenvolvimento, sobretudo, aqueles em que está presente a congregação.

O tema do XX Capítulo (Em comunhão com Cristo e com os irmãos pelos caminho do Evangelho ao encontro dos jovens do mundo com  Cristo e com os irmãos pelos caminhos do Evangelho  ao encontro dos jovens do mundo) estava centralizado na espiritualidade da relação.

O Capítulo reconhecia que na congregação estava se tornando importante «o tema da Família de Murialdo, como nova realidade em que se alarga e se enriquece o carisma espiritual e apostólico do fundador» (48). Os Josefinos passavam «da pretensão de ser os únicos depositários do carisma à convicção de que a sua riqueza se expressa hoje sempre mais plenamente na Família de Murialdo» e «de um carisma entendido só no interior da vida consagrada à acolhida da sua expressão também em situações de secularidade», com a disponibilidade a caminhos de formação recíproca entre religiosos e leigos. De «executores», os leigos se tornavam «companheiros di viagem plenamente responsáveis conosco da missão» (52-55).

O Capítulo, embora reconhecendo que em algumas realidades de congregação havia ainda escassa atenção aos jovens pobres, constatava que na maioria dos casos tinha madurecido a sensibilidade e tinha crescido o empenho  (63).

Acerca dos jovens, se afirmava a vocação a ser «educadores do coração», com atitude de benevolência e confiança (70), procurando passar de uma relação centrada no papel a uma partilha de vida, no estilo da companhia e da vizinhança humana e espiritual (72).

Notava-se, enfim, o crescimento para a sensibilidade missionária e se pedia à congregação de realizar intervenções apostólicas «lá onde vivem os jovens pobres» (78; 83) e de se colocar em atitude de «escuta do grito dos pobres, dos marginalizados e dos excluídos» (88), encaminhando «em favor dos últimos iniciativas-sinal que tivessem caráter exemplar e fossem facilmente reproduzíveis» (95).

 

 

23. Um sonho partilhado

 

As principais atenções dos últimos Capítulos Gerais (a espiritualidade, os jovens pobres, a vida fraterna, a partilha do carisma, a capacidade de relações humanas calorosas, a abertura aos tempos e ao território)  encontravam sua síntese no  «sonho» do XXI Capítulo Geral, aquele realizado em Fazenda Souza em  2006, o primeiro a ter lugar fora da Itália: «Com os olhos fixos em Jesus e nos jovens pobres, caminhamos alegres como irmãos numa comunhão de vocações, rica de misericórdia e de ternura, aberta profeticamente aos desafios territoriais e culturais».

O Capítulo, com tons inspirados um pouco misticamente, afirmava: «viver a compaixão de Deus pelo homem quer dizer a nossa profecia no mundo de hoje. [...] O olhar de Deus amor sobre nós, como fruto do encontro íntimo com ele, gera a alegria de nos sentir amados sempre e em cada circunstância. Uma espiritualidade alegre produz [...] a capacidade de ver e valorizar o belo em tudo e em cada pessoa, ouvindo e levando a Deus o grito do jovem pobre» (1.1.1).

A espiritualidade, vivida como estilo evangélico de vida, se manifesta também nas relações fraternas e na opção concreta pelos jovens pobres, a fim de que não se percam (ne perdantur) (1.2.2).

Valorizava-se, portanto, a linha de uma espiritualidade que entra na vida e na ação apostólica: «a nossa espiritualidade nos chama a encarnar o hoje evangélico de Cristo com os olhos e coração fixos sobre os jovens pobres, convidados a dar novas respostas e retomando como próprio o desafio educativo com e para os mesmos jovens » (1.2.4).

Tudo isto conjugado a uma maior e mais visível pobreza, num estilo de vida sóbrio e laborioso (1.2.5).

Da espiritualidade à vida e da vida à espiritualidade: «somos chamados a ouvir com sempre maior atenção as vozes dos jovens mais pobres, sabendo que, nos colocando a seu serviço, poderemos, juntos, descobrir o rosto de Deus  » (2.1).

Com os olhos fixos em toda a Congregação em todas as suas latitudes, os capitulares afirmavam: «com alegria constatamos que estão sendo realizadas experiências muito enriquecedoras, onde a mesma comunidade/obra vive a ação pastoral com uma disponibilidade a se repensar além da obra, a colocar em primeiro plano os últimos, a trabalhar em rede e em relação com o território, a discernir as novas fronteiras da evangelização, a enfrentar os desafios das outras religiões, da interculturalidade e da globalização de onde provém as instâncias de renovação. Reconhecemos a experiência de tantos confrades e leigos que estão comprometidos em descobrir, conhecer e acolher os jovens mais pobres e necessitados de seu território » (2.2.1).

Voltava, no texto do Capítulo, uma idéia já expressa nos tempos de Murialdo: «Onde, por diversos motivos as nossas obras] não são “habitadas” provavelmente pelos jovens pobres, nos orientamos para a abertura de espaços, o amadurecimento de caminhos, de itinerários e experiências para um serviço solidário com os pobres. Neste sentido também o fenômeno dos migrantes revela-se como uma muito forte possibilidade de serviço carismático que não devemos nos » (2.2.3).

Encorajava-se depois o compromisso dos confrades e dos leigos nos territórios de missão, junto com a «abertura de novas frentes de evangelização e promoção humana em países pobres do mundo e nas periferias dos grandes centros urbanos» (2.2.4).

Naturalmente estas reflexões eram acompanhadas por outra temáticas, como aquelas da formação contínua, a comunhão de vocações na Família de Murialdo, a abertura aos desafios do território e da cultura...

O caminho percorrido, as sugestões amadurecidas e a realidade que daí surgiu  (como a da Família de Murialdo) confluíram enfim no novo texto da Regra (2007), que na substância carismática retomava aquela de 1984, mas acolhia as modificações trazidas pelos Capítulos Gerais de 1994 e  2000, junto com aquelas derivadas da atenta revisão que lhe seguiu, aprovada pelo Capítulo de 2006.

 

24. As Murialdinas de  São José[1]

 

O Pe Luiz Casaril, fundador da congregação das Irmãs Murialdinas de São José, por ocasião da aprovação pontifícia (1973), escreve estas palavras que ficaram sempre, e para todas as co-irmãs, como o ideal inspirador do apostolado: «A vossa congregação nasceu entre os pobres e para os pobres, desenvolveu-se entre eles e para eles, por isso a Divina Providência vos abençoou, aprovou, louvou. Ficai fiéis a este espírito no qual reside a vossa força, a vossa glória, o vosso futuro. A exemplo de Murialdo, gloriai-vos de servir os pobres»[2].

Neste relato queremos dar uma visão panorâmica de como a congregação se manteve fiel a esta exortação, por isso daremos uma visão da realidade,       através do tempo e nas nações em que estamos presentes.

 

 

24.1 Itália

 

A fundação foi precedida por cinco anos de experiência (1948-1953) em que as primeiras coirmãs viviam na comunidade de Turim (Via Villar, n. 16) acolhendo umas 300 criança e meninas pobres para atividades pós-escolares e atividades de oratório e à noite as jovens operárias que, no tempo livre do trabalho na fábrica, queriam aprender a costurar, bordar, ou exercitar-se na datilografia.

A juventude então era muito numerosa e as primeiras Murialdinas tinham formado a Associação do «Patrocínio de São José» com a finalidade de dar formação humana e cristã ás jovens pobres e necessitadas.

Na primeira edição das Constituições (em 1953), como também na segunda edição (em 1964), no capítulo I: «Natureza da Congregação» se lê: «O fim especial da congregação das Irmãs Murialdinas de São José é a educação cristã das meninas e das jovens, especialmente se pobres e necessitadas de correção, e a entrada na família para a conservar ou para reconduzi-la à submissão a Deus e à Igreja e à virtudes cristãs em todas as manifestações sociais, morais, de piedade e de caridade» (art. 2).

As Constituições especificam as modalidades para conseguir este «fim especial» através de: creches, escolas elementares, escolas profissionais, colégios, orfanatos, reformatórios, oratórios, patronatos, paróquias e missões. 

Depois da fundação oficial em Rívoli (Turim) no dia 22 de setembro de 1953, as Murialdinas continuaram a se ocupar da juventude pobre e das famílias através da creche (Borgo Sabotino, Bronzola, Vattaro, Foggia), orfanatos (Ottaviano, Montecchio Maggiore), pastoral paroquial (sobretudo catequesee atividades de oratório) com especial atenção à juventude e às famílias (Rívoli, Mirano, San Giuseppe Vesuviano, Vattaro, Ottaviano, Montecchio Maggiore, Veneza, Foggia, Roma, Torino).

A Regra de Vida, renovada após o Concílio Vaticano II (Capítulo Geral especial de 1969), foi aprovada definitivamente pela Santa Sé em 1982 e atualizada em 2005 com as mudanças trazidas ao longo dos anos pelos vários Capítulos Gerais.

Reproduzamos alguns capítulos da Regra de Vida atual:

«Fiéis ao carisma que o Senhor deu à congregação, nós, Murialdinas testemunhamos diante dos homens a predileção de Cristo pelos meninos e os pobres[3]e, fazendo nossa a solicitude da Igreja, consagramos o nosso empenho pastoral e o nosso serviço à juventude e às famílias, especialmente mais pobres»[4].

«Em nossa missão de educadoras a favor da infância e da juventude, nós murialdinas nos empenhamos em promover a formação intelectual, profissional, social e cristã que leva à maturidade da personalidade a fim  de que os jovens possam enfrentar com responsabilidade seu futuro»[5].

Em nossa Regra de Vida, de acordo com o estilo de Murialdo, encontramos a escolha preferencial pelos pobres que supõe uma atitude espiritual e evangélica de partilha e de acolhida. 

O Pe. Luiz  Casaril, em seus escritos, nos convida continuamente a ficar «atentas aos sinais dos tempos»[6]para expressar no hoje o carisma de Mu­rialdo. Por isso  «nossa congregação, com o testemunho  de cada uma de nós, se propõe apresentar cada dia Cristo que acolhe e abençoa as crianças, anuncia o reino aos pobres, faz o bem a todos. [...] [Ela] dedica sua ação apostólica em particular à juventude e às famílias mais necessitadas de ser amadas e evangelizadas  »[7].

A finalidade da educação, em Murialdo, é a salvação (ne per­dantur) porque o encontro com Deus dá pleno sentido à vida do homem. Toda a sua atividade é imbuída pela preocupação religiosa, mas ao mesmo tempo, Murialdo se preocupa de toda a vida dos meninos (necessidade de pão, de jogo, de trabalho, de relações afetivas significativas, de instrução). Ele fala aos meninos do amor de Deus e faz com que façam a experiência acolhendo-os e amando-os.

A insistência de Murialdo para uma bem unida família  nos faz compreender que a ação educativa é um fato de comunidade[8], que o tipo de relações que se praticam tem grande importância educativa e que é necessário conviver com os as crianças, adolescentes e jovens, com amizade, cordialidade, doçura, como  «amigas, irmãs e mães»[9].

Somos chamadas a criar uma relação de confiança e corresponsabilidade, acreditando nas crianças, adolescentes e jovens a nós confiados, também nos mais difíceis, sabendo ver o potencial positivo que há em cada um, porque são  «sujeito» de educação e protagonistas do próprio crescimento[10].

Murialdo nos ensina a colaborar com os leigos e a Regra de Vida nos recorda que podemos realizar o apostolado «em obras próprias ou inserindo-nos em organismos já existentes»[11].

Como para Murialdo a experiência do encontro com Cristo orientou a sua vida para os jovens pobres dando-lhes a capacidade de reconhecê-lo no rosto de cada um, assim para nós o trabalho apostólico é escola de santificação.  

O elo inscindível entre fé e atenção para as exigências da pessoa no campo educativo e formativo se torna atenção amorosa para os meninos, jovens e famílias pobres, e leva a considerar sempre possível um crescimento humano e cristão, para uma vida vivida em plenitude. Como Murialdinas, somos também chamadas a ter uma atenção privilegiada  para quem é mais pobre, quem é menos dotado, quem está em dificuldade, para que esses possam percorrer o caminho que os leva ao encontro com Cristo. 

O Papa João Paulo II, na exortação apostólica Vita Con­secrata, afirma que «as mulheres consagradas são chamadas de um modo todo especial a ser, através de sua dedicação vivida em plenitude e com alegria, um sinal da ternura de Deus para com o gênero humano e um testemunho particular no mistério da Igreja eu é virgem, esposa e mãe »[12]; sentimo-nos, por isso, chamadas, consagradas e enviadas por Deus a uma missão particular na Igreja.

Conscientes e agradecidas a Deus por este dom, nós Murialdinas expressamos nossa identidade na dimensão apostólica, que para nós se torna autêntica estrada de santificação, e, «Senhor deu à congregação»[13], dedicamos nossa vida à «educação e salvação da juventude, especialmente pobre e necessitada de ser amada e evangelizada, e ao apostolado nas famílias»[14].

Reafirmamos, portanto, o nosso compromisso apostólico cientes de que somos chamadas a aprofundar a missão que nos foi confiada atuando-a com alegria e a fazer escolhas significativas, corajosas e proféticas, de acordo com o carisma.

 

 

24.2 Brasil

Fase inicial: de 1954 até 1970

 

Uma visão panorâmica da atividade apostólica das Murialdinas em seus inícios no Brasil torna visível a escolha preferencial para os pobres.

Fazenda Souza (zona rural do município de Caxias do Sul) caracteriza-se pela grande pobreza e as primeiras Murialdinas, ao iniciar a congregação no Brasil (ano 1954), abrem uma escola elementar «Santa Maria Goretti» para os filhos dos agricultores da região, com uma extrema pobreza de meios.

Algumas coirmãs são depois encarregadas a colaborar no serviço da cozinha, limpeza da casa e rouparia do orfanato «Abrigo de Menores» dos Josefinos na área urbana de Caxias do Sul. Daí, no próximo bairro Madureira, começam uma outra escola para os filhos dos operários, muito pobres.

O fenômeno urbano das favelas acentua-se mais na década de 70 e na cidade de  Porto Alegre as coirmãs assumem duas importantes obras de promoção humana e cristã para crianças e meninos em situação de risco: o Centro de Promoção do Menor e a escola profissional no Bairro Cidade de Deus em colaboração com a  Caritas Regional; o centro Infanto Juvenil Monteiro Lobato para meninas pobres na Vila Restinga.

Além disso as coirmãs abrem uma comunidade em Maringá, no Estado do Paraná, com uma obra assistencial (internato): Lar Escola da Criança[15].

 

Fase atual: a partir dos anos 80

 

Várias circunstâncias determinaram a transferência da escola Santa Maria Goretti para a cidade de Caxias do Sul, naquele que é hoje o populoso bairro Madureira. Abriu-se além disso um Centro Educativo Diurno para crianças e meninos em situação de risco no próximo Bairro «Primeiro de Maio».

Em 1978 nasce uma obra intercongregacional da qual as Murialdinas tem a direção: o Centro de Promoção do Menor de Santa Fé, em uma das  favelas mais marginalizadas da cidade de Caxias do Sul. Ainda hoje esta obra oferece o serviço de Centro Educativo para mais de quinhentos entre meninos e meninas pobres e abandonados.

Na área metropolitana da capital (Porto Alegre), as coirmãs não trabalham mais no Centro Educativo da Caritas Regional da Cidade de Deus. Recentemente abriram um programa de bio-energética (tratamento de saúde) para a população pobre. Continua ao invés o Centro Educativo Monteiro Lobato na Vila Restinga com atendimento também da Vila Bita, um bairro pobre limítrofe.

Em Londrina (Paraná) as coirmãs colaboram com os Josefinos na EPESMEL, com um serviço de educação, cozinha e outros programas sociais.

Em Maringá, a obra continua com o Centro Educativo Lar Escola da Criança que obteve mais vezes o reconhecimento local e nacional pela qualidade do serviço prestado a cerca de 350 crianças e meninos marginalizados da região.

As coirmãs, além disso aceitaram um serviço pastoral pedido pelo Bispo de Maringá para uma obra paroquial em Presidente Castelo Branco, zona rural cuja população é formada em sua maioria de boias–frias[16].

Em  2002 é aberta uma comunidade em Xique-Xique na região do Sertão da Bahia, região Nordeste, para assumir a pastoral do menor, a pedido do Bispo da  Barra. As coirmãs dirigem um centro diurno para a educação e evangelização de mais de duzentos meninos e jovens pobres e de suas famílias.

 

 

24.3 Equador

Fase inicial: anos 60

 

Fieis ao carisma apostólico da congregação, a delegação do Equador trabalha, desde seus inícios (1960), em três setores:

1) colaboração com a Missão Josefina do Napo através de escola para crianças e meninos indígenas do Oriente; direção e serviço médico-enfermeiro do hospital Santa Clara;

2) abertura de duas escolas populares na área urbana de San Rafael e em Guayaquil;

3) abertura da casa família «Hogar Santa Marianita» em Ambato para meninos abandonados.

 

 

Fase atual: a partir dos anos 90

 

A delegação equatoriana se qualifica pelo ensino em três escolas populares  (escola materna, elementar, média inferior e liceu): em Santa Clara (cerca de 700 alunos); em Guayaquil (1500 alunas); em San Rafael (600 alunos).

O hospital continua sob a direção da madre Guillermina Gavilanes, médica. Pouco longe de Santa Clara se encontra a comunidade de Arosemena Tola onde as coirmãs prestam um serviço de pastoral paroquial missionária e animam um projeto de promoção da mulher indígena.

No ano 2000 a delegação abre uma nova missão em La Manà (diocese de Cotopaxi) com serviço de evangelização em colaboração com a paróquia da área rural. A população é constituída em sua maior parte de operários braçais que trabalham na plantação de bananas.

A novidade dos últimos decênios é devida a uma iniciativa de vanguarda em prol dos mais pobres: meninos, adolescentes, jovens de rua da cidade de Ambato. Em 1997 as coirmãs começam o «Projeto Don Bosco» que na sua primeira fase aproxima os meninos de rua e oferece um serviço de mesa e de alfabetização. Coirmãs e educadores tem como ambiente apostólico as ruas da cidade, o mercado, as paradas dos ônibus, a estação central e qualquer ambiente frequentado por meninos marginalizados. Em 2002 começou a segunda fase com laboratórios e oficinas para que os meninos possam aprender um trabalho. A obra oferece também um ambiente chamado «dormitório transitório» àqueles meninos e jovens que não tem família, levando-os gradualmente a uma autonomia de vida.

A partir do ano 2000 também a comunidade de San Rafael abre um espaço educativo para crianças e meninos de rua, órfãos, pobres, abandonados.Inicia, portanto, o «Projeto S. Leonardo Murialdo» que acolhe 25 menores em regime de internato e mais de 60 como centro diurno.

 

 

24.4 Chile

A partir de 1974

 

A ação apostólica das Murialdinas no Chile, desde o início  (1974), foi dirigida à escolas populares. A primeira surge em La Reina para crianças e meninos dos arrabaldes de Santiago e, sobretudo da população pobre da cordilheira dos Andes. A segunda mantém também um refeitório. Na década de 1980-1990 se abre um internato para meninas e moças órfãs e abandonadas que tem a possibilidade de freqüentar a escola das coirmãs.

Em Quillota as coirmãs dirigem a escola elementar paroquial para meninos pobres  «Sagrado Corazon» que em 2006 se transfere na cidade de  Calera.

Nem 1986 as coirmãs em Valparaiso abrem um C.A.D. (centro diurno) para os meninos marginalizados de Rodelillo (zona de má fama e violenta), mas com a  reforma escolar a educação na escola obrigatória  é prolongada a tempo pleno, assim o C.A.D. se transforma num escola elementar e média para os mesmas crianças e meninos do bairro.

 

24.5 Argentina 

A obra, inicada em 1996, tem três projetos sociais: o «Centro Educativo Leonardo Murialdo» e o «Jardin Maternal Emmanuel» (creche e escola materna): instituições situadas na periferia de Mendoza em Villa Nueva, Guaymallén; o «Jardin Maternal Angel Custodio» ao invés está situado em Villa Marini de Godoy Cruz.

As três instituições com população pobre, situada no bairro e nos bairros vizinhos. São frequantadas por crianças, meninos e meninas cujos pais estão desempregados ou operários sazonais.

Em particular o «Centro Educativo Leonardo Murialdo» acolhe 150 meninos entre os 5 e os 18 anos, com propostas formativas adequadas à idade, seguindo sempre as linhas da educação integral e dando oportunidade de formação, alimentação, jogo, reforço escolar,  lazer, esporte, formação para o trabalho.

Os dois «Jardines Maternales» acolhem cerca de 200 crianças dos 2 aos 4 anos. Além disso, se realiza, um intenso trabalho apostólico com as famílias.

 

 

24.6 México

 

A fundação da obra da Cidade do México remonta aos nos de 1998: desde o início abriu-se o «Centro Educativo Leonardo Murialdo» que acolhe cada dia 200 crianças e meninos pobres e realiza um trabalho de promoção das mulheres  (mães das crianças que freqüentam o centro) que foram abandonadas pelos  maridos e vivem em situação de miséria e marginalidade.

O serviço do Centro Educativo cuida da formação humana e cristã, do reforço escolar, atividades educativas, recreativas, esportivas e artísticas.

Sempre fieis ao carisma em favor dos meninos pobres e às famílias, as coirmãs animam uma missão no Chiapas, zona indígena, doando seu serviço de evangelização em colaboração com os missionários do lugar, no período da Páscoa e nas férias de verão Junto às Irmãs participam nesta missão os jovens do grupo paroquial.  

Em 2008 abriu-se a segunda comunidade murialdina no México na cidade de Aguascalientes com finalidade formativa. As coirmãs e as formandas se dedicam a atividades paroquiais, à pastoral social e à evangelização dos jovens e das famílias pobres, na paróquia dos Josefinos. 

 

 

25. O caminho dos leigos e do Instituto Secular  «São Murialdo»

 

A caminhada histórica até aqui delineada, formada de idéias e de realizações concretas, colocou mais vezes em evidência a evolução para uma maior participação dos leigos no carisma vivido pelos religiosos josefinos, aliás, levou ao conhecimento de um carisma que pertence não só a uma congregação, mas a toda a Família que se inspira em seu fundador. É, portanto, oportuno neste ponto, que se dê um olhar sintético sobre isto, a partir do tema específico do serviço aos jovens pobres .

 

O ponto de chegada do caminho é formado, por agora, pelos artigos 40-43 do Diretório, que faz parte da Regra de 2007.

 

Eis o texto: «A riqueza do carisma de Murialdo se manifesta em plenitude quando se concretiza nos diferentes modos de viver a vida cristã e faz amadurecer uma comunhão de vocações. Os confrades sentem um vínculo espiritual que os leva a constituir-se como Família de Murialdo com todos aqueles que, embora em estados de vida diversos, receberam, como eles, o dom concedido por Deus ao Fundador (art. 40).

 

Os confrades, considerando-se os primeiros depositários do carisma, dom do Espírito à Igreja para a utilidade comum, à luz da eclesiologia de comunhão, sentem fortificada a sua identidade internamente na mais ampla realidade denominada Família de Murialdo na qual se dilata o carisma do Fundador. (art. 41).

 

A congregação reconhece, sobretudo na congregação irmã das Irmãs Murialdinas de São José, também estas empenhadas na missão apostólica confiada por São Leonardo Murialdo a seus discípulos, o testemunho de seu espírito na Igreja. [...] Estão abertos à mútua colaboração na pastoral da juventude e vocacional, na formação e na atividade apostólica(art. 42).

No âmbito da Família de Murialdo, adquirem particular significado, as agregações de pessoas consagradas ou as associações de fieis leigos que se inspiram em São Leonardo Murialdo. A congregação ciente de que cada cristão é chamado a responder à própria vocação batismal no serviço apostólico, reconhece particularmente os leigos que, através de um caminho de formação e de um compromisso de uma pertença mais íntima, chegam a participar por vocação, numa modalidade sua própria, da espiritualidade de Murialdo. (art. 43)».

 

Nestes artigos se focalizam direta ou indiretamente aquelas realidades que há alguns anos eram definidas como Família de Murialdo «em sentido estrito», ou «por vocação»: os Josefinos, as Murialdinas, o Instituo Secular São Leonardo Murialdo, os Leigos de Murialdo. Trata-se de pessoas que não só partilham o apostolado murialdino, mas também a pertença espiritual, testemunhando o carisma de São Leonardo em seu estado de vida, na família, na profissão e nutrindo com ele sua espiritualidade.

 

Os artigos 44-45 descrevem depois uma pertença «em sentido lato», ou «por associação», à Família de Murialdo, embora sem usar estes termos: trata-se dos ex-alunos, colaboradores, amigos, benfeitores, mães apostólicas... pessoas enfim que freqüentaram ou frequentam as obras da Família de Murialdo e que estão ligadas a ela pela simpatia, pela sintonia espiritual, por iniciativas apostólicas.

 

A respeito dos Leigos de Murialdo devemos recordar que eles, «qualquer que seja seu estado de vida, desejam partilhar o carisma de Murialdo e participar da missão da congregação dos Josefinos ou Murialdinas, especialmente em favor do bem material dos jovens mais pobres e marginalizados» (Pontos de referência acerca da adesão dos  «Leigos» [colaboradores ou não] da Família de Murialdo, n. 1, in «Lettere Giuseppine», [1990], n. 5, p. 160). No mesmo documento, no n. 8 se afirma que os Leigos de Murialdo são chamados por Deus a «integrar e a enriquecer espiritual e apostolicamente» as comunidades dos Josefinos e das Murialdinas.

 

Naturalmente, se lê num texto de 1994, isto acontece numa partilha «de uma mesma escolha vocacional, também se em funções diferentes e com uma especificidade diferente», mas igualmente na certeza de sermos todos chamados  «a seguir Cristo segundo o carisma de Murialdo, que como leigos eles se empenharam a viver na realidade quotidiana «com escolhas de vida que se inspiram aos conselhos evangélicos», preferencialmente «em prol de quem tem necessidade, primeiros entre todos os menores» (Carta das Comunidades Leigos de  Murialdo aos irmãos consagrados na congregação dos Josefinos de Murialdo por ocasião do seu  XIX Capítulo Geral. Às irmãs consagradas na congregação das Murialdinas de São José, n. 2)[17].

 

O caminho dos leigos da Família de Murialdo encontrou na Itália uma modalidade expressiva que foi denominada «Comunidade Leigos de Murialdo»: aderindo ao carisma espiritual murialdino, eles partilham também aquele apostólico, «âmbitos e modalidades diversas» (Comunidade Leigos de Murialdo. Elementos característicos, in «Vita Giuseppina» [1998], n. 8, p. 231).

 

Num contexto mais amplo, as várias realidades leigas que «respiram» o  carisma murialdino estão convencidas que  «reler o carisma “juntos” [entre religiosos e leigos], isto é, ao masculino, ao feminino e de acordo com a modalidade leiga, não só ajuda a compreendê-lo, a colocá-lo em prática e a amá-lo mais,mas ajuda ainda a individuar as potencialidades que o carisma está em condições de enriquecer uns e outros, ajuda a escutar as esperas que o carisma suscita nas relações em uns e outros e a tomar », sabendo, além disso, inoltre, «che il carisma del Fondatore possa espandersi e risultare fecondo anche al di là delle opere» (Lettera delle Realtà Laicali ai Capitolari, in occasione del Capitolo Provinciale delle Province Italiane, gennaio 2006, in Congregazione di San Giuseppe. Giuseppini del Murialdo. Provincia Italiana, Laici e religiosi per camminare insieme, (Quaderni di Formazione permanente, n. 2), Roma 2008, p. 15 e p. 17).

 

Uma forma especial de consagração murialdina é o Instituto Secular São Murialdo. Trata-se de uma realidade eclesial que em seu espírito e em seu estilo de vida tem suas raízes no carisma de São Leonardo Murialdo. Foi aprovado canonicamente pelo bispo de Caxias do Sul (Brasil) no dia 19 de março de 1996, mas havia começado fazia seis anos. E’ formado de mulheres consagradas que «se empenham em viver os conselhos evangélicos no mundo e a partir do mundo», cada uma em sua profissão e no seu trabalho, como é típico dos Institutos Seculares (Tullio Locatelli, Istituto Secolare S. Murialdo, in «Vita Giuseppina», [1997], n. 1, p. 6).

O carisma apostólico de Murialdo está aí bem presente, junto com aquele espiritual: «Este grupo deseja testemunhar no mundo e com o mundo, o amor infinito, terno, pessoal e misericordioso de Deus». As mulheres que fazem parte (mulheres solteiras ou viúvas) «valorizam o dom da vida, dedicando-se aos pequenos e aos jovens pobres, agindo em favor dos oprimidos» (sic); cada uma se mantém com o exercício de sua profissão, que oferece também a possibilidade de empreender atividades de voluntariado e de ajuda ao próximo.

 

Giovenale Dotta

 

Tradutor: Pe. Cornélio Dall’Alba, Orleans, 27 de março de 2009.



[1]Il paragrafo 24 è stato redatto da suor Orsola Bertolotto e suor Cecilia Dall’Alba.

[2] Lettera circolare n. 75, in occasione del Natale 1973, in Lettere del P. Luigi Casaril, ed. ciclostilata, Roma 1983, p. 92.

[3] Cf. Mt 18,5.

[4]Congregazione Suore Murialdine di San Giuseppe, Regola di vita. Costituzioni. Direttorio generale, Scuola Tipografica S. Pio X, Roma 2005, art. 59 (d’ora in poi Cost.).

[5] Cost., 61.

[6] Cf. lettera circolare 18, del 21 marzo 1962, in Lettere del P. Luigi Casaril..., pp. 15-16.

[7] Cost., 10.

[8] Cf. Cost., 62.

[9]Il carisma della Congregazione, n. 28, in Suore Murialdine di San Giuseppe, Carisma della Congregazione. Testi, Roma 1997.

[10] Cf. Cost., 61.

[11] Cost., 60.

[12] VC 57.

[13] Cf. Cost., 59.

[14] Cost., 58.

[15]«Lar», in portoghese, significa «casa» (come «Hogar» in spagnolo). La traduzione letterale sarebbe «Casa Scuola dei fanciulli».

[16]Boia-fria è il nome di chi va a lavorare portando con sé il pranzo senza avere poi la possibilità di riscaldarlo. Da qui il nome boia (pranzo) fria (freddo).

[17]Il testo della lettera si può trovare nel dossier distribuito ai capitolari e intitolato Famiglia del Murialdo: contiene documenti e schede relativi agli Ex allievi, alle Mamme Apostoliche, ai Laici del Murialdo, ai movimenti Clajmur e Peregrinos.


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